Marcos Vinícius da Silva Ramos


A IGREJA UNIVERSAL E SUA LUTA CONTRA O SATÃ ATRAVÉS DA INDUMENTÁRIA: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DO MEDIEVALISM


O título, obviamente, causa estranheza às demais pessoas. Afinal, qual a relação entre a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977, com o medievo? Por mais que tal associação soe como absurda e anacrônica, defendo que das tantas apropriações que a Igreja Universal faz, a sua principal – pilar de sua teologia – é a divisão dicotômica do mundo, onde Deus e Satã guerreiam por seu controle – conceito tipicamente medieval. Como detentores da verdade e possuidores de uma missão – esta que fica clara no nome da instituição -, que é lutar contra o mal e vencer a guerra, a Igreja arroga para si esta responsabilidade de instruir a ecclesia de várias formas. Ao analisar o Manual do Serviço Sagrado fica explícito que uma das maneiras que a Universal encontra para lutar contra as forças demoníacas é aconselhando seus obreiros, homens e mulheres que têm suma importância no trabalho iurdiano, a controlar seus corpos, sobretudo, suas roupas. Não cabe a mim trazer conclusões ou esvaziar o assunto, pelo contrário, é de interesse, a partir desta análise, expor reflexões e possíveis hipóteses abarcando como teoria o medievalism.

Medievalism, ecclesia e controle do corpo
Como supracitado, tenho como referência teórica o medievalism. Tal teoria sofreu resistência acadêmica e, até hoje, é vista com maus olhos por determinados grupos. Por mais que a tradicional idade média não exista mais cronologicamente, os discursos baseados em fantasias e imaginários continuam presente até hoje no Ocidente. Oponho-me a aprofundar o debate sobre o início e fim (se é que existiu e, se existiu, teve fim), alta ou baixa idade média, principalmente às “diferentes idades médias”, levando em conta os contextos sociais, culturais, políticos e geográficos. Entretanto, é inegável que ainda há de maneira vívida um imaginário, ou, em outras palavras, um fetichismo sobre as idealizações do medievo. Desde grupos religiosos reacionários que sonham com uma volta à “época áurea” da igreja a grupos que usam como exemplos sociedades medievais para justificar e legitimar supostas “vocações guerreiras” através de discursos beligerantes. Existem inúmeras pesquisas na academia norte-americana que trazem tais reflexões e mostram-nos como a idade média ainda é viva nos filmes, séries, jogos e grupos sociais. Portanto, mais uma vez afirmo, entender o Manual do Serviço Sagrado como algo tipicamente medieval não me parece algo absurdo, principalmente em relação à lógica iurdiana que vê o outro – não membro de sua igreja – como força maligna que deve ser, por ora combatido, por ora convertido. Por mais que Edir Macedo, seu líder, veja o catolicismo como um de seus maiores rivais religiosos, mais uma vez, apropria-se de uma ideia tipicamente católica-medieval e a põe em prática. Portanto, ao falar de medievalismo, alinho-me a Leslie J. Workman, tendo-o como um “estudo da Idade Média, da aplicação de modelos medievais às necessidades contemporâneas e a inspiração da Idade Média em todas as formas de arte e pensamento” (WORKMAN, 1987, p.1 apud D’ALCÂNTARA, 2017, p. 14).

Como já citado anteriormente, a luta contra o diabo é o pilar doutrinário da teologia da Igreja Universal do Reino de Deus. Esse tema está ligado aos cultos (momentos de exorcismo), campanhas (tirar sua família das mãos do diabo) e, neste caso, à roupa. Entretanto, tal lógica não é exclusiva à Universal, mas às igrejas pentecostais e neopentecostais em geral (AMARAL, 2019). A instituição traz, intencionalmente ou não, o conceito de ecclesia para seus fiéis, voltando-se às concepções agostinianas, nas quais o mundo fora divido em dois campos opostos e assimétricos– Deus e Satã, ou seja, a luta do bem contra o mal, da luz contra as trevas, do espírito e da carne (GUERREAU, 2002, p. 447 apud AMARAL, 2019). Uma das formas dos obreiros lutarem contra o mal, além de estarem nas reuniões, assistirem aos pastores, aos presentes nos cultos e “lutar” fisicamente contra os demônios quando preciso, é submetendo-se a uma série de normas e práticas contidas no manual. Ao não se encaixar nos padrões propostos pelo manual, o obreiro estará colocando em risco a imagem da igreja e sua vida, pois o inimigo está sempre ali, esperando falhas que possibilitem suas investidas. A única forma de não sucumbir é estando atento e levando em consideração o aconselhamento e instrução da igreja, submetendo-se o princípio de autoridade (auctoritas) estabelecido pela igreja (AMARAL, 2019). Ao se submeter aos padrões por conta da autoridade espiritual que a instituição possui, os obreiros aceitam interferência em seus corpos. Durante a Idade Média, a simbologia sobre o corpo existiu de várias formas. De órgãos considerados nobres e mais importantes (coração, cabeça) ao controle de sentimentos, emoções, desejos etc. Nos relatos hagiográficos analisados por Juliana Prata da Costa e Wendell dos Reis Veloso, o corpo, os sentimentos e a forma que os bispos lidavam com estes era crucial à imagem que deveria ser construída em relação a eles, sobretudo nas hagiografias. Para os autores, “o corpo é um mecanismo para a afirmação da santidade destes bispos e que, portanto, precisa estar de acordo com a dignidade eclesiástica em questão” (Costa e Veloso, 2018, p. 261). O cargo de obreiro é um dos mais importantes da igreja, pois é este que, grosso modo, faz o “trabalho pesado”. No site institucional da Igreja é declarado que ao ser consagrado a tal cargo, o homem ou a mulher que o ocupa declara guerra contra o diabo e deve lutar com todas as armas possíveis para retirar vidas do jugo demoníaco (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/blog/2013/09/06/por-que-ser-obreiro/). Porém, o controle do corpo, além de exigir uma vida ascética, exige de roupas limpas à determinadas cores de peças íntimas. O controle do corpo, na lógica iurdiana, dá-se pelo regramento da roupa, dos cabelos, da maquiagem e do tamanho da barba. Ou seja, as vestes do obreiro tem valor espiritual dado pelo próprio Deus (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/). O controle das roupas, adornos e, no geral, da aparência, resultam no perfil do obreiro ideal que representa a imagem do próprio Deus.

Feitos à Sua imagem e semelhança
Normalmente é de se esperar de um grupo religioso que arrogue para si uma autoridade acima de qualquer lei humana. O que, grosso modo, diferencia o Manual do Serviço Sagrado de outros manuais, cartilhas ou aconselhamentos, é seu caráter sobrenatural. Não há, para a Universal, interferência humana posta neste manual. Cada palavra, ordenança e conselho é diretamente dada por Deus. Cabe à instituição fazer o papelmediador e entregá-los aos obreiros. Questões ideológicas, de gênero ou, até mesmo, aproximações de lógicas empresariais – roupas adequadas, corte de cabelo, cor de unhas – de maneira alguma fazem parte do documento em questão. Em todo momento, a característica humana é minimizada em detrimento da característica divina que é maximizada, pois,

Conforme cremos, o Espírito Santo dirige toda a Obra e escolhe Seus servos para cumprirem Seus propósitos. Sabedores disso, não há necessidade de questionar algumas limitações colocadas aqui como normas, porque a obediência a elas trará resultados satisfatórios e, principalmente, agradará a Deus, de forma que o obreiro será capacitado para a realização do Serviço Sagrado”(ibdem).

Como exposto no texto, não há espaço para questionamentos. O princípio de auctoritas é visível, pois a igreja não produziu tal manual para simplesmente obter controle sobre seus obreiros e fiéis, mas, através da revelação, teve acesso ao que deve ser cumprido. O capital simbólico de representante divino que a Universal arroga para si é encontrado facilmente em todo manual, nas suas produções literárias e midiáticas. Ao se adequar aos tais padrões, segundo o manual, o obreiro estará apto para ser um representante de Deus na terra e estará revestido de uma unção que o ajudará a lidar com os problemas que lhe chegarão, inclusive, encontrará formas, em sua pequenez, para lutar contra Satã.

Ao se adequarem a tais padrões, o obreiro, além de representar a personificação do sagrado e estar apto para as batalhas espirituais que certamente ocorrerão, este, obviamente, representa a imagem da Igreja Universal – ou a imagem que a instituição pretende transmitir. Há, no manual, uma série de cuidados e nuances que são citadas para que a imagem do obreiro seja algo sublime. Ao seguir os padrões, o obreiro mostra-se capacitado, escolhido, seguindo uma ideia de predestinação ao cargo eclesiástico, predominante no medievo. Portanto, mostra-se nobre e desinteressado de qualquer tipo de retorno monetário. Segundo o Manual,

“A experiência de ser um obreiro ou uma obreira na Iurd, onde se luta diariamente com os demônios, é a base para que esse trabalho evangelístico, feito com muito amor, cresça cada vez mais em todo o mundo. Os obreiros têm uma atuação indispensável, porque são os cartões de visita da Igreja e desempenham as mais variadas funções. Fazem tudo isso por amor a Jesus. Não recebem salário; é um trabalho voluntário. Para os que são convertidos, ser obreiro é considerado um privilégio, porque compreendem que são escolhidos por Deus para esta missão” (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/).

Em suma, ser obreiro é um cargo valiosíssimo, pois, além de ser o “cartão de visita da igreja”, só é possível sê-lo pois as razões do trabalho não são mundanas; exige amor a Jesus, voluntariedade e, principalmente, vocação. O manual, na lógica iurdiana, ao ser seguido, é o diferencial: é o trânsito necessário que transforma o obreiro a imagem e semelhança do Deus neopentecostal.

Servos fiéis: do cabelo à barba, da unha ao sutiã
É sabido que a figura masculina, no cristianismo, é de suma importância. Os homens são os sacerdotes, provedores do lar e protetores de suas famílias. Para Macedo, “hoje, o homem de Deus simboliza o Israel” (MACEDO, 2002, p. 85). Portanto, o homem está, numa lógica hierárquica, somente abaixo de Deus. Além das recomendações sobre etiqueta e tratamento, como dar “boa noite” e “bom dia”, falar baixo, sempre ser simpático, cortês, discreto e sutil, as normas impostas aos homens não são tão específicas quanto às mulheres, mas, além da exigência da limpeza para com o uniforme, três cuidados especiais são propostos aos obreiros: unha, cabelo e barba. As unhas, devem ser mantidas sempre cortadas e limpas;os cabelos, igualmente. Devem estar sempre cortados e arrumados – cabelos grandes, obviamente, são proibidos. Sobre a barba e/ou bigode, o conselho é mais específico: não é aconselhado usá-los, mas, se for opção do obreiro adotar tal visual, deve seguir determinados cuidados “para não transmitir uma imagem de descuido ou falta de higiene” (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/). O obreiro deve escolher “um modelo adequado para seu tipo de rosto”; barbear-se diariamente, principalmente nas “áreas do pescoço e bochecha, onde a barba não deve crescer”; deve estar sempre aparando “os pelos mais longos semanalmente ou quinzenalmente, de acordo com a necessidade pessoal”; deve, também, “observar o comprimento simétrico dos fios”; por fim, se não é possível, por parte do obreiro, um horário diário para estes cuidados, não se recomenda o uso da barba e do bigode (ibdem).

Como supracitado, o obreiro ideal aceita ter seu corpo controlado, pois, grosso modo, as exigências feitas ali estão sob o princípio da autorictas empregado pela IURD. Não cabe aqui sobre a aceitação ou não destas normas, mas é interessante entender que, teoricamente, aceitar tais padrões e pô-los em prática não é problemático por parte do obreiro. Esta é a chance dos homens mostrarem o quão são fiéis e obedientes, vestindo a blusa certa e cuidando de seus cabelos e barbas. Tudo isto é uma forma de glorificar a Deus e, principalmente, diferenciar-se do pagão. É importante, também, ressaltar que a sujeira é vista como algo diabólico, demoníaco. Portanto, tais exigências devem ser feitas para que fique explícito a separação do obreiro – representante da igreja e de Deus – e do homem que está ali para ser resgatado do inferno. Segundo Macedo, “se Deus não é visível na pessoa, então não houve batismo com o Espírito Santo” (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/).
Na parte do Manual dedicado às mulheres, as especificações exigidas são mais complexas do que em relação aos homens. Não é novidade que a figura feminina, na teologia cristã, pode ser causadora de grandes debates. Ora vista como a principal personagem e culpada na queda adâmica, ora vista como alguém que é capaz de gerar vida, o papel da mulher também é controverso na teologia da Igreja Universal. Segundo Edir Macedo, fundador e líder máximo da Igreja, “a mulher faz e desfaz de um homem, mas uma mulher de Deus faz homens de Deus” (MACEDO, 2009, p. 4). Na teologia iurdiana, a mulher é essencial no tocante à espiritualidade do homem. É vista como uma parceira que pode e deve levá-lo ao encontro de Deus. Porém, ao mesmo tempo que a figura feminina pode levar o homem ao mistério divino, pode, também, guiá-lo ao extremo oposto. Paradoxalmente, pode ser uma bênção ou uma maldição – isso dependerá, obviamente, se esta é uma mulher de Deus ou pagã.

“O sucesso de um homem, não importando a profissão que ele exerça, depende muito da mulher que faz parte da sua vida. Ela é, na verdade, co-responsável tanto pelo seu sucesso quanto pela sua desgraça. O rei Salomão, com toda a sua sabedoria e poder, não pôde resistir aos caprichos e envolvimentos das mulheres. Acabou perdendo toda a sua glória justamente por causa delas” (ibidem, p. 10).

Portanto, como mencionado anteriormente, cabe a mulher entender tal responsabilidade e saber lidar com esta. O uso de maquiagem, adornos ou determinados tipos de roupa não são práticas pecaminosas, segundo a IURD, mas deve haver um, por parte da mulher, o reconhecimento de que existe um limite estabelecido que deve ser cumprido. No manual, não resta dúvidas de que a obreira, além de serva de Deus, deve ser vista como um exemplo referencial para as demais mulheres. Esta ideia aparece em outras ocasiões no pensamento iurdiano.

“[...] É dever de toda mulher, especialmente se ela é de Deus, procurar ter a melhor aparência possível, para se apresentar na igreja ou em qualquer outro lugar [...] As vestimentas sensuais e eróticas são condenáveis pela Palavra de Deus, uma vez que excedem o bom senso, além de fazerem transparecer um caráter totalmente inverso ao de Deus. As mulheres que deixam extravasar sua sensualidade, quer através do seu comportamento, quer de suas vestimentas, agem desta forma porque têm um espírito demoníaco, chamado pomba-gira. Por acaso não procedem assim as prostitutas quando querem atrair clientes?” (ibdem, p. 37).

Mais uma vez, Macedo faz a oposição entre mulher cristã e pagã. Atribui a sexualidade desenfreada e o erotismo a um espírito demoníaco. As exigências feitas para as obreiras no Manual mostra-nos como a mulher ideal – a obreira – deve combater e distanciar-se da mulher pagã através, principalmente, das roupas e dos costumes.

Além dos cuidados básicos de limpeza e conservação para com o uniforme, as obreiras devem tomar cuidado com a maquiagem. É recomendado que a base, corretivo e pó compacto devam combinar com o tom de pele da mulher, “de maneira que fique natural”. Batons e gloss são permitidos apenas se as cores forem suaves. A sombra pode ser usada se com cores discretas, “neon, verde, amarelo, glitter e outras que não harmonizam com a função” são proibidas (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/).

Sobre as unhas, segue-se a mesma lógica da maquiagem: somente cores neutras. As unhas devem estar sempre feitas, pois “se o esmalte começar a descascar, deixará uma aparência de desleixo”. Desenhos e decorações são proibidas por não combinarem com o uniforme, somente o estilo francesinha tradicional é permitido. Por fim, as unhas devem estar sempre limpas e cortadas para “manter um aspecto de higiene e saudável”, pois estas podem machucar as pessoas, “sobretudo nas reuniões de libertação” (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/).

Em relação ao cabelo, as exigências são semelhantes. Sempre prezando pela discrição e harmonização em relação ao uniforme, as cores fortes são proibidas, pois podem escandalizar. Determinados cortes e penteados também são proibidos. Cabelos presos são recomendados como ideais, porém, na santa ceia, é obrigatório o uso do penteado “rabo de cavalo”. Por fim, há orientação para o uso de peças íntimas: “calcinha (grande, estilo calçola) e sutiã cor de pele”.

Doravante, há recomendações de higiene para ambos: higiene bucal, recomendando a escovação da língua e dentes; uso de desodorantes e antitranspirantes; uso de perfume que deve prezar por fragrâncias suaves, para evitar desconforto nas pessoas, “como espirros, alergias, enxaquecas”. O perfume deve ser aplicado na “nuca, atrás das orelhas, pulsos, dobras dos cotovelos e atrás dos joelhos” (ibdem).

Em suma, ao trazer tais exigências que em determinadas óticas pareçam absurdas, o Manual mostra como estas questões são sensíveis à Universal e a imagem que esta pretende produzir sobre si. Ao propor – ou coagir – o obreiro a se comportar e controlar seu corpo e sua indumentária, a IURD mostra que mais uma frente está aberta na guerra contra Satã.

Ao analisar a sociologia do neopentecostalismo, Ricardo Mariano traz reflexões sobre como os novos movimentos – tem a IURD como o principal – rompem com antigas tradições e costumes. Se antigamente os crentes eram facilmente identificados e estereotipados, isto não acontece mais, segundo o autor. Para o sociólogo, “os neopentecostais se vestem como todo mundo” (MARIANO, 2014, p. 210). O Manual do Serviço Sagrado mostra-nos que sim, os neopentecostais, principalmente os membros da Igreja Universal têm uma maneira diferenciada e correta de se vestir. Esta, talvez, por seu caráter visual, seja a forma mais simples de distinguir o pagão do iurdiano, pois, como diz Edir Macedo, “quando alguém de fora ver você uniformizado, ele irá respeitá-la como uma pessoa de Deus” (https://sites.universal.org/obreirosuniversal/blog/2017/06/11/santidade-ao-uniforme/).

Novamente, a Universal mostra-nos que conceitos tipicamente medievais e abandonados pelo catolicismo retornam à sua teologia. A guerra entre o bem e mal deve ser combatida de várias formas – nos cultos, campanhas e nas roupas. O obreiro idealizado pelo Manual é a personificação do homem e mulher de Deus, que controlam seus corpos, obedecem à auctoritas e lutam contra o mal.

Referências:
Marcos Vinícius da Silva Ramos é graduando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e orientado por Clinio de Oliveira Amaral; participante do LABEP (Laboratório de estudo dos protestantismos).
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (2019), disponível em: <https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/> Acesso em 6 de mar. 2019.
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (2013), disponível em: <https://sites.universal.org/obreirosuniversal/blog/2013/09/06/por-que-ser-obreiro/> Acesso em 6 de mar. 2019.
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (2017), disponível em: <https://sites.universal.org/obreirosuniversal/blog/2017/06/11/santidade-ao-uniforme/> Acesso em 6 de mar. 2019.
MACEDO, Edir. O Perfil do Homem de Deus. Rio de Janeiro: Editora Gráfica Universal LTDA, 2002.
MACEDO, Edir. O Perfil da Mulher de Deus. Rio de Janeiro: Unipro Editor, 2009.
MARIANO, R. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2014.
AMARAL, Clinio de Oliveira. Neopentecostal santification understood through medievalismo. The study of the hagiography of Valdemiro Santiago. In: ALSCCHUL, Nadia; RUHLMANN, Maria (orgs.). Ibero-American Medievalisms. Glasgow, 2019.
D’ALCÂNTARA, Thamires Chagas. A auto-hagiografia elaborada por um Santo: a exemplaridade da fabricação de santidade na obra “o grande livramento” de Valdemiro Santiago. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) – Curso de História, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Seropédica, 2017.
COSTA, Juliana Prata da; VELOSO, Wendell dos Reis. O corpo como local de forja das identidades episcopais em reinos sucessores da Primeira Idade Média: as referências em textos hagiográficos visigodo e franco do século VI. Roda da Fortuna, vol. 7, n. 1, pp. 244-264, 2018.

20 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Marcos Vinícius. Texto maduro, aprofundado, gostei bastante! A discussão levantada por ti é atual, contextualizada e de ampla relevância histórica/social. Lembro que escrevi um artigo há um tempo analisando os discursos da IURD e da IIGD, cuja abordagem era parecidíssima com a tua.
    Mas vindo para a sua proposta, quero propor uma reflexão simples, porém bastante importante, sobretudo se levado em consideração o contexto o qual o Brasil está vivenciando atualmente, permeado de retrocessos que são, em grande medida, capitaneados pelas igrejas neopentecostais.
    Sobre isso, gostaria de lhe perguntar de que maneira você enxerga como o ensino de história medieval e as discussões sobre o cerceamento de liberdade da Igreja Católica naquele contexto podem auxiliar no combate ao fundamentalismo religioso do Brasil atual e sua reverberação nas esferas política e cultural?
    Abraço,
    Fábio Alexandre da Silva

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    1. Olá, Fábio. Agradeço-te pelas palavras e pergunta. Gostaria também de ter acesso ao seu artigo e, se possível, trocar informações que provavelmente irão me ajudar demasiadamente.
      Respondendo à sua pergunta, acredito que o ensino de história medieval é de suma importância, pois é um período que gera inúmeras polêmicas. Acredito nisto, também, principalmente por conta das apropriações que são feitas do medievo em várias disputas narrativas que se propõem enquanto discurso educador. Citarei dois exemplos genéricos mas que explicam bem o que estou-lhe falando. Primeiramente, existem grupos que, incrivelmente, negam a Inquisição e exaltam a Idade Média como época em que a Igreja era "absoluta". Fazendo parte destes grupos, há também aqueles que propõem um tipo de retorno ao medievo exaltam valores que foram perdidos mas devem ser resgatados e postos imediatamente em prática. Segundamente, no extremo oposto, há aqueles que reduzem o período de mil anos a feudalismo e hegemonia religiosa. Ou aqueles que se referem ao período como "idade das trevas" e estão sempre usando esta retórica ao referir-se ao que estes julgam como retrocesso, atraso ou barbárie. Ambos os grupos, mesmo estando em lados opostos, negam décadas de pesquisas sérias que propõem uma difusão do conhecimento; negam várias correntes historiográficas que realizam inúmeros debates sobre assuntos que estão muito longe de serem consensuais.
      Nós, enquanto professores de história e acompanhantes/participadores dos debates, devemos levar as inúmeras concepções e debates à sala de aula e mostrar que a Idade Média não foi um período estático e simples. Talvez assim possamos mostrar aos alunos que estas apropriações e falácias são equivocadas e não têm compromisso com a honestidade intelectual. Acredito que devemos sempre ser ponderados e demonstrar, na medida do possível, como determinadas lógicas e práticas não fazem mais sentido hoje, pois pertenceram unicamente àquele período histórico. Aí, obviamente, encaixa-se na sua reflexão e pergunta. Porque a mistura entre assuntos políticos e religiosos são, hoje, perigosos? Porque o fundamentalismo pode, em última análise, levar à eliminação do oponente simplesmente por uma discordância de fé ou ideologia? Acredito que devemos procurar estes lugares que foram tomados nos meios midiáticos e políticos que existem hoje. Ora, não proponho censura a não acadêmicos, mas este lugar é nosso. Não por sermos detentores de uma verdade - até porque, pelo menos para mim, a verdade está num patamar inalcançável e lidamos com "resquícios do tempo" - mas, diferentemente destas pessoas, lidamos com metodologia, análise documental e, principalmente, estamos compromissados com uma honestidade intelectual que, na maioria das vezes, falta a estas pessoas. Por que, para um jovem adolescente, é mais interessante ter um "youtuber" como fonte de informação e tem seu professor de história como alguém que pode ser substituído? Gostaria, porém, de responder-lhe com outra pergunta: até onde o momento assolador de hoje é culpa nossa? Esta pergunta é a que mais tem tomado conta de meus pensamentos. Mas, fugindo de uma análise pessimista, acredito que trazer tais perspectivas e formas de entender as narrativas que envolvem o medievo pode, em grande escala, sucumbir ideias preconceituosas e tolas que hoje podem permear nossa sociedade. Não romantizar o medievo, não deixar o discurso militante tomar conta de nosso ofício e saber levar à sala de aula estas questões importantes como cerceamento de liberdade, opressão de gênero, de raça e de religiosidades fazem parte deste processo. Com toda seriedade, evitando anacronismos e paralelismos surreais, estes assuntos devem ser tratados e não vistos como normais, mas como problemáticas que não fazem mais sentido à nossa sociedade tão plural e fundamentada nos direitos humanos e sociais.
      Desculpe-me por qualquer confusão e espero, sinceramente, ter respondido à tua excelente pergunta. Novamente, agradeço-te, Fábio.
      Marcos Vinícius da Silva Ramos

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    2. Excelente, Marcos. Super esclarecedoras as suas palavras. E parabéns pela escrita!
      O que você acaba de expor são pontos a se pensar e certamente incorporar ao ofício do professor que ensina sobre o Medievo. Contudo, não pense você que o professor ocupa lugar cativo no mar de retrocessos da contemporaneidade e tampouco na não construção ideal do conhecimento sobre a medievalidade. Tenhamos em mente que, sim, há falhas no processo de construção desse saber, muitas vezes ligadas às dificuldades e carências de formação, aos não investimentos em políticas públicas educacionais, em formação de professor, em escolas etc., porém, como você bem citou, o poder midiático hegemônico e as novas mídias sociais, somados ao contexto de aumento vertiginoso do neopentecostalismo no Brasil, são elementos mais fortes e, seguramente, pontos capitais na crescente incorporação do fundamentalismo religioso e de práticas e costumes anacrônicos, por ora idealizados e romantizados, ao cotidiano das pessoas.
      Outro aspecto a levar em conta é o plano material, isto é, a base econômica, que para Marx e Engels são pontos determinantes e que exercem influência direta nos demais elementos da superestrutura (aí se situa, portanto, o plano das ideias e dos costumes). Sobre isso, é fundamental levar em conta que estamos num contexto de crise econômica e política o qual certamente impacta diretamente
      na construção dessas ideias e imaginários, muitas vezes, vinculados diretamente ao pensamento medieval.
      Mas sem me alongar tanto, agradeço mais uma vez pela possibilidade de refletir com tantos elementos acerca da temática abordada. E quanto ao artigo, poste o teu e-mail por aqui que na sequência te envio o arquivo.
      Forte abraço!

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    3. Olá, Fábio, como vai? Segue meu e-mail: marcosv.ramos@outlook.com
      Em relação ao que disse, concordo em partes. Não acredito, assim como você, que o atual momento vivido em nosso país é grande parte culpa de nós enquanto professores. Porém, como supracitado, há, pelo menos para mim e falo das minhas experiências enquanto aluno e professor, um "relaxamento" (não entenda de forma pejorativa, por favor) da maioria dos professores. Estes não acompanham as discussões acadêmicas e baseiam-se em leituras antigas que já não fazem mais sentido. Ora, porque não levar aos nossos alunos o que há de novo? Obviamente, há uma série de fatores que pode impedir isto: a obrigatoriedade de acompanhar o material didático que muitas das vezes está repleto de erros, a falta de tempo/recursos para acompanhar os atuais debates acadêmicos, a falta de investimento que possibilite ao professor o acesso a outros materiais e etc. Mas, mesmo sendo algo complicado, acredito que pode e deve ser feito. Tomo a liberdade para usar uma expressão de meu professor: devemos nos desgarrar de profissões de fé metodológicas e abranger mais a discussão, incluindo uma abertura bibliográfica que possibilite isso.
      Em relação à crescente neopentecostal, concordo com ti, porém não vejo-o como o principal responsável pelas coisas atuais. Acredito que este cresceu num solo que foi fertilizado por anos de negligências e irresponsabilidade de todos os tipos, mas, é um assunto delicado e abstenho-me de expô-lo aqui.
      No mais, agradeço-te novamente e espero em breve ler seu texto. Grande abraço, até!

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    1. Marcos Vinícius, seu texto foi incrível, e acredito que possui um apontamento bem relevante que seria a absorção de características típicamente marcadas num contexto histórico específico, nesse caso a idade média, possui relação com alguns comportamentos e regras tem no mundo contemporâneo, principalmente no mundo Religioso.
      Pensando nisso e no seu referencial teórico, gostaria de lhe questionar o seguinte ponto, como aqueles que pertencem a esse meio percebem essa noção de auctoritas, se é que eles percebem e sabem desse conceito? E se você pensa em trabalhar em suas futuras pesquisas com o relato de membros ou obreiros que se submetem a essas regras? Para finalizar, gostaria de saber se é possível elincar o conceito de auctoritas aos textos bíblicos escolhidos pelo próprio Bispo Edir Macedo, para a fundamentação do corpo doutrinário da IURD?
      Agradeço, pela atenção e possibilidade de resposta.
      André Luis Araujo Pereira Junior

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    2. Olá, André, agradeço-te pela pergunta e elogio.
      Olhe, acredito que os membros não percebem este conceito e, principalmente, não estão minimamente interessados nisto. Obviamente, meu olhar é o de pesquisador, de alguém que olha o movimento e tenta entende-lo usando determinados métodos. O fiel, em última análise, não tem como objetivo a observação de discursos e redes de poder, por exemplo, mas em ter uma relação com o sagrado e obter respostas para seus anseios, desejos, medos, frustrações e etc. Entretanto esta submissão à noção de "auctoritas" faz parte do processo. Ouvir o pastor e ter aquilo como algo vindo diretamente de Deus é essencial para que, na lógica religiosa da Universal, as coisas deem certo, pois tanto o pastor quanto a instituição são representantes de Deus - isto fica bem claro no nome da igreja, por exemplo. Então, como supracitado, os membros não tem qualquer interesse em entender ou não esta lógica pois ela não seria importante para sua experiência com o transcendente.
      Em relação à segunda pergunta, espero sim ter a oportunidade de trabalhar com os relatos dos obreiros, mas como pontua muito bem o historiador Wander de Lara Proença, há um clima hostil produzido pela Universal contra os jornalistas e pesquisadores por conta de recentes polêmicas, proibindo pastores, obreiros e até membros a falarem sobre o funcionamento da igreja ou simplesmente expressarem opiniões pessoais. Portanto, acho que uma tentativa de aproximação não seria muito bem vista pelos obreiros.
      Terceiramente, os métodos usados por Edir Macedo para fundamentar as doutrinas que compõem a lógica iurdiana são, sem exceção, baseadas num princípio de "auctoritas". Por mais que protestantes clássicos e católicos aleguem que as análises são descontextualizadas e não respeitam a hermenêutica cristã e uma teologia sistematizada, toda a produção intelectual feita por Macedo e outras autoridades da igreja buscam, a todo momento, legitimar suas ideias baseados na "auctoritas", pois estas ideias foram-lhes reveladas através da experiência com o sagrado. Estas ideias, sobretudo, numa lógica hierárquica, estão acima de qualquer outra possível interpretação dos textos bíblicos.
      Espero que, na medida do possível, possa ter lhe respondido. Peço desculpa por qualquer confusão feita. Mais uma vez, agradeço pela participação. Grande Abraço!
      Marcos Vinícius da Silva Ramos

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  4. Excelente texto, Marcos! A sua discussão me suscitou não uma questão muito contundente, mas uma curiosidade. Embora a seu fonte central de discussão seja o Manual, gostaria que você aprofundasse um pouco mais- se fosse possível - como é que se dava o controle do corpo no período medieval, levando em consideração o tripé exposto em seu texto, a saber, cabelo, barba e unha? já que buscou de alguma maneira estabelecer relações entre a indumentária medieval
    católica - modelos de comportamentos - e as que são exigidas na IURD através do Manual.

    Renata de Jesus Aragão Mendes

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    1. Olá, Renata, como vai? Agradeço-te pelo elogio e também pela pergunta que com certeza agrega muito ao debate.
      O controle do corpo, no período medieval, dava-se de várias formas. Existem vários estudos que podem contribuir neste sentido, mas há, especificamente, uma dissertação defendida na Universidade Federal de Juiz de Fora que aborda especificamente a indumentária no medievo (porei o link do trabalho no comentário abaixo).
      A diferenciação no medievo através da indumentária e adornos era extremamente necessária para criar um desnível entre o clero e os leigos. Era uma sociedade que em grande maioria era analfabeta, portanto, os simbolismos e a identificação visual eram muito úteis. Era necessária essa diferenciação visual para que o leigo, por exemplo, reconhecesse que aquela pessoa não era comum, mas um representante da Igreja e de Deus. Michael Mullett, inclusive, ao abordar a Contra Reforma (já na modernidade) analisa como essa diferenciação do clero em relação à humanidade (pessoas comuns) dava-se na preparação intelectual, no comportamento, mas também no trajo. Ou seja, esta ideia não ficou "presa" ao medievo.
      Existiam, também, as leis suntuárias que tinham como objetivo regrar a sociedade contra excessos em gastos, luxo, comida e também vestes. Em Valladolid foram expedidas leis que proibiam as mulheres casadas de andar com o cabelo ao ar livre, pois era considerado um item responsável pela sedução. Isto valia também para mulheres ligadas à vida religiosa. Em contrapartida, era permitido às mulheres solteiras usar o cabelo à mostra e o uso de tranças indicava que estas estavam "disponíveis" para casamentos.
      Havia, também, uma clara restrição de adornos e vestimentas a judeus, mouros, prostitutas, fazendo com que estes fossem facilmente reconhecidos como "indignos". Cores específicas eram ligadas à nobreza e só podiam ser usadas por seus membros, por serem custosas e por dependerem de uma "mão-de-obra qualificada". As roupas das autoridades religiosas também eram confeccionadas por pessoas específicas, devido à importância que estas tinham.
      Obviamente não conseguirei expor aqui todas as formas de controle e regramento no corpo, mas acho válido, como pontuei no texto, direcionar nossa atenção à como a Universal faz isto e como ela dá, literalmente, valor espiritual às roupas, ao cabelo, à maquiagem.
      Renata, mais uma vez agradeço-te e espero, sinceramente, ter respondido à sua pergunta. Perdoe-me por qualquer erro ou confusão. Até!
      Marcos Vinícius da Silva Ramos

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    2. Segue o link da dissertação que lhe falei. A autora estuda minunciosamente os detalhes de vestimentas, adornos, cores, tecidos e quais significados sociais/políticos eles têm na baixada idade média, mais precisamente em Valladolid. É muito interessante caso queira saber, de forma detalhadamente, sobre o que abordei de forma resumida.
      www.ufjf.br/ppgacl/files/2017/05/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Thaiana-Vieira.pdf

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    3. Olá, Marcos! A sua resposta de fato contemplou as minhas dúvidas. Como era de se esperar você fez uma excelente explanação acerca do que lhe perguntei. Eu estudo representações femininas nas peças de Gil Vicente e sendo assim as questões que envolvem as questões de género no periodo medieval são de meu interesse. Mas, confesso que ainda não tinha me atentado as questoes especificas que dizem respeito a indumentária. A dissertação disponibilizada certamente me ajudará no trabalho que venho desenvolvendo. Estou super agradecida mesmo.

      Abraços,

      Renata de Jesus Aragão Mendes

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    4. Olá, Renata. Fico feliz por tê-la ajudado de alguma forma. Além disso, fiquei interessado sobre sua pesquisa, principalmente pela importância que esta contém nos dias de hoje. Gostaria, se possível, de ter acesso a seus textos para que eu possa ter ciência dos debates que estão ocorrendo em relação a este assunto. Obrigado. Abraços!

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    5. Olá, Marcos! Agradecida pelo interesse. É claro que posso disponibilizar. Tenho publicado alguns artigos e irei colocar o link abaixo para você acessar.
      Espero que possa lhe ser util de alguma maneira. E quaisquer sugestão sobre pode entrar em contato por email: rearagao23@gmail.com

      Abraços,
      Renata Aragão
      Segue links!
      Os dois primeiros estão disponíveis na academia.edu e os demais restantes estao incluídos em anais de evento.
      1. https://www.academia.edu/38573828/Renata_Revista_Mythos.pdf
      2.
      https://www.academia.edu/38711783/Renata_ANAIS_Estudos_medievais_da_Para%C3%ADba
      3.
      http://anpuhmaranhao.net/wp-content/uploads/2018/02/ANAIS-DO-X-ENCONTRO-REGIONAL-Textos-Completos.pdf
      4.http://anpuhmaranhao.net/wp-content/uploads/2019/01/Anais-Anpuh-MA-2018.pdf
      5.
      http://nupehic.net.br/wp-content/uploads/2019/02/Anais-do-Evento-V-Simposio-NUPEHIC-2018.pdf

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  6. Olá, parabéns pela exposição! Como ex-fiel da IURD entendo perfeitamente essa retomada a aspectos claremente oriundos do medievo nas reuniões da igreja. Você acredita que esse aceite por parte dos fiéis-obreiros a esse controle do corpo relaciona-se a uma ignorância intelectual por parte dessas pessoas ou apenas uma grande jogada mental que obtem sucesso? Levanto essa reflexão visto que no Medievo, os fiéis eram em sua maioria camponeses , analfabetos que criam cegamente na ideia passada pela eclesia por não enxergarem outra realidade(estou fazendo uma análise que talvez pareça anacrônica). Hoje, aqueles que formam o corpo de obreiros da iurd, é formado por pessoas intelectualmente instruídas, sem contar com o acesso a informações da internet. Assim, como você justificaria

    Jordana Pereira Rodrigues

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    1. Olá, Jordana, tudo bem? Obrigado pelo elogio e também pela pergunta que, com certeza, agrega muito ao debate e me ajuda a pensar sobre o tema.
      A resposta é negativa. Não acredito que essa aceitação de um controle do corpo é por conta de uma "ignorância intelectual". Tento fugir, principalmente, de uma análise que busca justificar as religiosidades baseadas na "ignorância". Mais precisamente, não parto da premissa marxista clássica sobre a religião. Acredito, porém, que essa aceitação dos obreiros e fiéis parte de uma fé que confia nestas instruções e as têm como algo importante para a "obra". Eles, grosso modo, não estão se sujeitando à igreja, mas à Deus. Não é problemático para a obreira, por exemplo, ter que se adequar e vestir determinadas cores de calcinha e sutiã. Para esta o corpo não é algo que está no âmbito do privado e que as decisões cabem à ela, mas o corpo e o controle deste é uma forma, sobretudo, de agradar a Deus. Então, como supracitado, não acredito que esta submissão parte de uma ignorância, mas que parte de um ato de fé que tem vários simbolismos e significados.
      Em relação à sua analogia eu não sei até onde é aplicável. Hoje a Universal está passando por um processo de elitização muito grande, tanto em relação a seu discurso (midiático, intelectual) quanto a seus membros. Obviamente eu não tenho os dados e não posso pô-los aqui com certeza, mas arriscaria dizer que o analfabetismo na IURD é algo extremamente insignificante até porque existem políticas institucionais que incentivam o fiel a ler, estudar, etc.
      Jordana, espero que possa ter respondido à sua pergunta, mesmo com minhas limitações. Mais uma vez agradeço-te pela participação. Até!
      Marcos Vinícius da Silva Ramos

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  8. Boa noite Marcos Vinícius da Silva Ramos, parabéns pelo bom texto, uso das fontes e análise bem elaborada. Minha pergunta está relacionada aos usos políticos das questões que você aborda. Os elementos ligados ao medievalism que você aponta dentro da prática religiosa institucionalizada pela IURD são encontrados também dentro da cultura política de diversos representantes que ocupam cargos políticos hoje e se elegeram tendo como plataforma principal fiéis e igrejas como a IURD, os mesmos ocupam espaços que vão muito além da famigerada bancada da Bíblia e páginas reacionárias e fundamentalistas nas redes sociais. Gostaria que você falasse um pouco da inserção desses elementos dentro da cultura política dos citados indivíduos e associação deles com segmentos religiosos e Igrejas.
    Alaéverton Maicon de Andrade

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    1. Olá, Alaéverton, como vai? Agradeço pela participação e reflexão.
      Primeiramente, acho que é válido destacar que este é um tema delicado. Enquanto pesquisador procuro afastar-me de conclusões que possam ofender a instituição e seus membros.
      Obviamente o eleitorado evangélico (ou que se identifica tal como) é extremamente numeroso e poderoso, sendo assim a maior base para a "bancada da bíblia", como você disse. O que mais me chama atenção, porém, é como estes movimentos ignoram - por desconhecer ou por colocar à margem - um conceito que, pelo menos para a Reforma, fora muito caro e os fez distinguir-se dos católicos no século XVI: laicidade. O conceito de laicidade, obviamente, é mais complexo do que a ideia de separação entre Igreja e Estado, mas os neopentecostais procuram força política para cada vez mais aparelhar estes dois. Seria interessante, também, procurarmos entender onde e como há a virada de pensamento, por parte dos evangélicos, onde se passa de uma ojeriza à política para engajar-se nela. Se outrora a política fora vista como algo mundano, hoje é vista como um importante instrumento para transformar a sociedade e adequá-la à moral cristã. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, é um exemplo disto. Tem um cargo eclesiástico importante na Universal e teve um grande apoio de parte do eleitorado evangélico. Não quero entrar numa simplificação de dizer que ele foi eleito só por isso; existem inúmeros outros fatores que o ajudaram, mas é inegável que seu seguimento religioso foi importante. Há, por parte da Universal, uma clara intenção de distribuir seus representantes no meio político, pois, é uma ferramenta importante para a instituição. Em suma, a política é outro tipo de front para se lutar a guerra que estes travam - no meio espiritual e material. Impressiona-me como estes movimentos trazem novamente à tona conceitos que pareciam ter sido deixados em determinados períodos históricos - no caso, a junção de Igreja e Estado. Isto, porém, é uma prática comum nos meios neopentecostais. Prática esta que advém de uma leitura literal da Tanakh. Acho que seria interessante pontuar isto, mesmo fugindo um pouco de sua proposta.
      Alaéverton, eu lhe peço desculpa pelas minhas limitações e pela superficialidade que tratei do assunto. Mas, como disse, é um assunto delicado que exige rigor e sensibilidade para ser debatido. Grande abraço!
      Marcos Vinícius da Silva Ramos

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