CONHECER
PARA OPERAR: O SABER DOS MÉDICOS-CIRURGIÕES MEDIEVAIS COM BASE NA OBRA DE HENRI
DE MONDEVILLE (FRANÇA, SÉC. XIII – XIV)
O presente trabalho tem por objetivo destacar as novas
habilidades exigidas aos cirurgiões do século XIII e XIV, sobretudo na França,
com o advento do ensino universitário, com base na análise da obra ‘A Cirurgia’
de Henri de Mondeville. Foi no final do século XII e durante o século XIII, no
ocidente europeu, que se presenciou a organização de numerosas corporações de
professores e estudantes, inicialmente chamadas de Estudos Gerais e,
posteriormente, de Universidades (SOUSA, 1996, p. 207-215).
As universidades representaram, ao longo do século XIII e
XIV, a instituição mais expressiva na preparação e criação cientifica e uma das
ferramentas indiscutíveis da renovação intelectual da sociedade europeia. Elas
definiram as fronteiras de criação intelectual no que se refere à medicina e a
ciência. Assim, papas, reis, imperadores, bispos e membros da burguesia, perceberam
que o conhecimento mais aprofundado da natureza, significava progresso e,
consequentemente, o lucro (BALLESTER, 2001, p. 106).
A medicina praticada na Europa, sobretudo na França, recebeu
muita influência do mundo árabe. Os hospitais como instituição, onde podiam
acontecer os tratamentos e as pesquisas médicas, foram invenções do Islã e
serviram como base aos europeus. Fazendo uso das pesquisas clássicas como as de
Galeno, os árabes obtiveram avanços no campo da medicina superiores aos
conhecidos por outros povos. O saber aristotélico até então renunciado, passou
a ser aceito. Os médicos muçulmanos colaboraram inclusive com manuais médicos
que serviram como base de aprendizagem a ponto do árabe passar a ser a segunda
língua obrigatória. A primeira continuou sendo o Latim, usado na escrita dos
livros didáticos, assim como, nas preleções e, obrigatoriamente, na conversação
entre os estudantes (GOODY, 2011, p. 54-60; HASKINS, 2015, p. 85).
O contato com escritos de autores gregos como Aristóteles,
Galeno, Hipócrates, Ptolomeu (90-168), etc. e com árabes e judeus como Avicena,
Averróes (1126 - 1198), Al-kindi (801–873), Maimônides (1138 - 1204) e outros
deu origem, entre os intelectuais, a um novo tipo de relação entre o
conhecimento religioso e o raciocínio humano. Esse saber tinha como base,
disciplinas como a geometria, astronomia, astrologia, medicina, ética e outras
diferentes das baseadas na Sagrada Escritura e dos Santos Padres. Esse contato
levou os profissionais da saúde, as noções dos fenômenos que afetavam o corpo
humano, chegando a novas soluções práticas, graças ao auxílio da filosofia
natural e dos novos saberes a respeito da natureza (BALLESTER, 2001, p. 80-81).
No entanto, é necessário fazer uma observação: o contato com
os árabes, judeus e outros povos orientais, e consequentemente, com obras de
Galeno e Hipócrates (autoridades da medicina antiga), não significou que a
medicina francesa estariam ressuscitando estas obras. Primeiro, porque esta
redescoberta estaria sendo feita em partes por causa dos árabes. Segundo,
porque estes povos, apesar de terem prestado grande contribuições, também
receberam e aceitaram conhecimentos vindos do extremo Oriente. E terceiro,
porque estes saberes se depararam com questões religiosas e, desta forma, a
medicina praticada nas universidades só refloresceu quando se desvincula dos
dogmas da Igreja. Essas obras antigas e as traduções delas foram importantes
por estarem resgatando e transmitindo um conhecimento acumulado (GOODY, 2011,
p. 68-71).
Jacques Le Goff e Nicolas Truong (2006 A, p. 114-115)
afirmam que diferente do que foi difundida por Roger Bacon (1214 - 1292), a
medicina da Idade Média não se ateve a algo livresco, onde os remédios eram os
mesmos pregados por Galeno. O que ocorreu foi que, devido às pressões ideológicas
da Igreja, os médicos ocultaram-se por traz da “máscara de Galeno”, e sempre
que se deparava com algo novo, dizia-se que havia sido obra de Galeno ou de
outras autoridades antigas.
Os cirurgiões medievais, a exemplo de Henri de Mondeville
(1260-1320), descobriram que a sociedade atribuía grande importância ao
conhecimento, e por isto, este profissional, teria se dedicado ao mundo acadêmico
se formando em Medicina em Montpellier e se especializando em cirurgia em
Bolonha. Escrever seria uma forma de ganhar status. Assim, entre os anos de
1306 e 1312, Mondeville escreveu os dois primeiro tratados de sua obra ‘A
Cirurgia’, levando em conta a obra ‘Cânon (Al-Qanun)’ de Avicena (tradução de
Gerardo de Cremona). No ano de 1316 sua saúde se deteriorou e com relatos de
seu medo da morte, decidiu continuar a escrever, dando inicio ao terceiro
tratado que não foi concluído em decorrência de seu estado de saúde (CLARKE,
1931, p. 459 – 461; MCVAUGH, 2014, p 242 – 250; ICARD, 2010, p. 13).
Do terceiro, Mondeville pulou para o quinto tratado, que é
considerado um dos mais inovadores, sendo feito a pedido dos alunos e servindo
como um livro de receitas de medicamentos e drogas úteis ao cirurgião, e
seguindo a nova prática de concluir um manual com uma seção farmacológica e de
iniciar com a anatomia. O quarto tratado é deixado de fora, pois Henri havia
planejado escrever sobre os tratamentos das luxações e fraturas, mas a
tuberculose provavelmente o impediu, levando-o a morte por volta de 1320/25,
aos 65 anos. Sua obra ficou inacabada. (MCVAUGH, 2014, p 250; ICARD, 2010, p.
13).
Transmissor da cirurgia italiana para o mundo da medicina parisiense,
Henri de Mondeville defendeu vigorosamente o progresso que é a introdução da
cirurgia escolar. Como um valoroso testemunho do seu tempo, defendeu tanto
cirúrgicas quanto médicas, a necessidade de uma teoria prática para dar
dignidade às práticas manuais. Segundo ele a cirurgia constitui um processo
como todos os outros, pelo menos nas operações que eram feitas com ferro e
fogo. Não havia necessidade de se surpreender, já que estas se aplicam em
doenças mais complicadas, isto é, que não poderiam ser tratadas com outros procedimentos,
como por exemplo, costurar a ferida, abrir os abscessos, reduzir fraturas e
outras coisas semelhantes. A proeminência da cirurgia na medicina aparece
porque lida com as doenças difíceis, no tratamento das quais a medicina é falha
(LECOURT, 2004, p 233).
As inovações de Mondeville vão além das suas práticas. O
escrito ‘A Cirurgia’, deixa uma atualização das práticas cirúrgicas, para
alunos e sucessores. Mostra que Henri não considerava a cirurgia como apenas
uma prática manual, mas como uma ciência teórica e uma disciplina intelectual.
A ambição de Mondeville não era, na verdade, de escrever um livro novo sobre
cirurgia, mas desenvolver uma ciência cirúrgica real, ligando a teoria e a
prática, mais intimamente do que seus predecessores italianos. Henri de
Mondeville tentou aplicar à cirurgia o fruto das reflexões medicas de seu
tempo, sobre a transição dos princípios gerais para a ação particular (ICARD,
2010, p. 16-17; JACQUART, 1998, p 49).
O reconhecimento
da profissão somado ao conhecimento adquirido nas universidades, em uma época
onde muitos ainda consideravam os cirurgiões como meros trabalhadores manuais,
trouxeram novas exigências a estes profissionais, que viriam a se diferenciar
dos tradicionais cirurgiões-barbeiros. Segundo o próprio Henri de Mondeville, algumas
atitudes e características eram fundamentais para os bons cirurgiões, tais
como:
“[...] ser moderadamente ousado, não para discutir com os leigos, mas para operar com prudência e sabedoria, e para não realizar uma operação perigosa antes de ter previsto o que é necessário para evitar o perigo. Deve ter membros bem treinados, especialmente as mãos, dedos longos e finos, ser ágil, não tremer, ter todos os outros membros fortes e viris para executar todas as boas operações da alma. Que ele seja complacente; Que ele se entregue aos doentes, para não esquecer nada acidentalmente. Que ele prometa curar a todos os seus pacientes; Que não esconda o caso e os perigos, se houver, para os pais e amigos. Que se recuse, tanto quanto pode, as curas difíceis. Que nunca se intrometa em casos sem esperança. Dê conselhos aos pobres, por amor a Deus. [...] Que trabalhe, tanto quanto possível para ganhar uma boa reputação. Que conforte o paciente com boas palavras [...]” (MONDEVILLE, p. 91).
Mondeville destaca que o paciente
deveria escolher o cirurgião adequado e isto só seria possível a partir da
observação de suas características. Assim, o cirurgião deveria ter também uma
boa visão, uma rápida engenhosidade, uma boa memória, bom senso, inteligência
saudável e saber como adaptar às regras gerais aos casos individuais. Além
disto, Mondeville utiliza as ideias de Galeno, afirmando que o cirurgião deve
ainda, ser diligente para visitar o paciente de manhã, à tarde e à noite, se
possível, para ver o efeito dos medicamentos. Deve ainda operar de acordo com
os cânones da medicina e não utilizar de presságios e profecias, ou mesmo
feitiços, por não estarem de acordo com a verdade e por serem proibidos (MONDEVILLE, p.
173-174).
As obrigações dos cirurgiões
também deveriam estar relacionadas ao cuidado com a cozinha. Assim, cabia a
estes profissionais da saúde, verificar se o chefe não é fleumático, julgar se
os pratos estão sem gosto ou salgados e verificar se não existe outro
ingrediente no almofariz (MONDEVILLE, p. 265-266). Além disto, segundo
Mondeville, quatro coisas são fundamentais ao cirurgião e que devem ser levadas
em conta pelo paciente:
“[...] não temer o mau cheiro, cortar ou destruir corajosamente como um carrasco, mentir com cortesia e saber sutilmente arrebatar de estrangeiros, presente ou dinheiro. O paciente deve escolher um cirurgião que lhe convém e que sabe respeitar os seus pacientes; saber que um homem fraco e delicado opera suavemente, levemente e lentamente, fazendo várias vezes ou em vários dias, o que ele faria em um dia se fosse um homem robusto; e que deve operar um paciente robusto, violentamente e corajosamente, mas respeitando os princípios e regras da cirurgia” (MONDEVILLE, p. 174).
Outra habilidade importante para a prática da medicina
sobretudo a partir do século XIII e XIV, é o uso da anatomia. O seu uso, foi
amplamente defendido por Mondeville, que acreditava que deveria ser uma das
aptidões que o médico-cirurgião deveria ter. Para tanto, ele apontou que:
“[...] é importante para o operador saber, na anatomia, os nervos, veias e artérias, para que ele não se iluda ou corte um desses órgãos. Isso pode ser provado por um exemplo: pois um cego trabalha da mesma maneira na madeira, como um cirurgião no corpo cuja anatomia ele não conhece. O cego, quando corta a madeira, às vezes é confundido; assim, quando ele pensa que corta a madeira de acordo com sua largura [...] corta quatro vezes mais do que ele pensava. Da mesma forma, o cirurgião que não conhece a anatomia, comete erros nas operações [...]. Como o corpo humano é objeto de toda arte médica, da qual a cirurgia é o terceiro instrumento, sabe-se que se o cirurgião faz incisões em diferentes partes do corpo e em seus membros, sem conhecer sua anatomia e sua composição, nunca será capaz de operar bem” (MONDEVILLE, p. 14-15).
Ainda no primeiro tratado de sua obra, dedicado
exclusivamente para falar da anatomia dos membros do corpo humano, percebe-se a
importância desta habilidade, sobretudo quando o cirurgião se vê diante de um
paciente lesionado. No caso do crânio, por exemplo, o cirurgião deveria
conhecer as partes deste órgão, sabendo onde começa e onde termina, bem como do
que é feito. Saber que:
“A cabeça humana, no que diz respeito às necessidades do cirurgião, é composta ou formada por duas partes principais, a saber, a face com suas partes; e a parte posterior e superior, que se estende desde as últimas raízes do cabelo para a frente, até as últimas raízes do cabelo para trás. Agora, essa parte posterior, coberta de pelos, chamada [...] de "pote da cabeça". Ela é composta de três partes principais: 1ª a parte carnuda, que é fora do crânio, 2ª do crânio, 3 ª das membranas e do cérebro.” (MONDEVILLE, p. 26-27).
“A parte carnosa é composta de cinco partes, ou seja, o cabelo, a pele, a carne, as veias, artérias e nervos, e a membrana que cobre os ossos da cabeça.” (MONDEVILLE, p. 26-27).
A laceração deste membro, segundo Mondeville, permite ao
cirurgião constatar um mecanismo complexo de veias e nervos, onde percebe-se os
motivos que o levou a destacar 20 regras fundamentais para a operação no crânio
em seu terceiro tratado, onde estão presentes recomendações como: a proibição
da remoção de mais ossos do crânio, do que o necessário
para se retirar o pus; a extração de ossos da forma mais rápida e suave
possível e o cuidado para não se aproximar dos cantos, partes nervosas ou
delicadas da cabeça, para evitar danos à membrana e ao cérebro (MONDEVILLE, p. 334-338). Desta forma, o
médico-cirurgião deve saber que:
“[...] na membrana que cobre os ossos, existem veias que vêm do fígado. Saindo do lado de dentro, elas saem do occipital, através do orifício no osso basilar, para nutrir a carne externa da cabeça, [...]; penetram no crânio pela comissura mediana e transportam o sangue nutritivo para o cérebro e suas membranas [...]” (MONDEVILLE, p. 29).
Um última habilidade exigida aos
profissionais da medicina no medievo, é o conhecimento sobre os usos dos
medicamentos. A atenção do homem medieval para à farmacologia e farmacopeia é
inegável. Mesmo antes da época das universidades, Gilles de Corbeil (1140 –
1224) já falava em versos sobre as virtudes dos remédios compostos. No ‘Cânon’
de Avicena é possível constatar os aspectos relativos e imprevisíveis dos
efeitos das drogas. A insistência com a qual as variações foram relatadas de um
individuo para outro, a importância dada a noção de
propriedade para substâncias ou forma especifica, e a descrição do processo de
fermentação do simples dentro do composto (JACQUART, 1998, p 466)
Alguns textos cirúrgicos medievais descrevem o uso de
estratos de plantas para aliviar a dor ou sedar o paciente antes de uma
operação. As prescrições de Avicena e Teodorico trazem uma gama de compostos
ativos e muitos ainda são usados hoje na medicina em formas mais refinadas.
Existem várias provas para o uso do ópio por médicos em estados francos. O
estrato destas plantas era dissolvido em líquidos como o vinho ou concentrado
em esponjas. O vinho parece ter surgido mais efeito do que a esponja (MITCHELL,
2004, p. 198-204).
O
uso de vinho quente e, em seguida, a retirada de objetos, higienizando o
ferimento com panos limpos e fechando as bordas para uma melhor cicatrização,
está entre as recomendações trazidas por Mondeville em sua obra ‘A Cirurgia’.
Por fim, colocava-se emplastro e a cobria com panos limpos. Dentre os
ingredientes que estavam presentes no emplastro consta: a tanchagem, a
betónica, o aipo e a terebentina. Na atualidade, entende-se que estes
componentes possuem propriedades cicatrizante, antibacteriana, que favorece a
coagulação, desinfetante e que combate a febre (BARBOSA, 2012, p. 18). Para a limpeza do ferimento e o
tratamento do mesmo, segundo Mondeville, o médico devia:
“[...] Aplicar uma emplastro de farinha de cevada, água, mel e óleo comum, moderadamente, fervido e colocado com um pedaço de pano sobre o ferimento. Por cima, coloca-se um grande chumaço seco e espesso, feito de estopa; Isso fará com que o curativo fique mais firme do que se nós não colocarmos nada [...] Devemos costurar os curativos, para eles não se moverem ou cair, para o paciente não ver, enquanto o curativo permanecer” (MONDEVILLE, p. 359).
Os procedimentos para evitar a purgação presentes na obra em análise, também estão ligados ao uso de medicamentos simples e compostos. Os medicamentos simples são o vinagre, diversos tipos de argila formados pelas inundações e deixadas nas encostas dos rios, o umbigo de Venus, alface, alazão, focinho-de-porco, entre outras ervas finas. Poderia ser usado o suco de tais ervas ou o resultado da destilação das mesmas, em água. Já os medicamentos compostos, são pomadas e emplastros, feitos com os medicamentos simples misturados entre si ou com aqueles que combinam (MONDEVILLE, p. 637-638).
Para Mondeville, tais
medicamentos esfriam a ferida e devem ser trocados frequentemente, assim que
começarem a se aquecer. Do mesmo modo, para o tratamento da purgação, os
medicamentos também são simples ou compostos. Os simples são óleos de rosas,
lírios, de murtas e outras substâncias frias, cremosas, argila e a maioria
daquelas que foram listadas anteriormente. Já os medicamentos compostos,
incluem pomadas de óleo de rosas, gema de ovos misturados, suco de chicória ou
plantas similares; farinha de cevada e entre outras (MONDEVILLE, p. 637-638).
Portanto, motivado pelo ensino universitário e pela
valorização de profissões que até então ficavam a margem da sociedade medieval,
a figura do médico-cirurgião, passa a ser vista com outros olhos. A coragem, o
fato de saber mentir com cortesia, a observação dos efeitos dos medicamentos, a
preocupação com a alimentação e com as características de seus ambientes de
trabalho, se tornaram aptidões fundamentais para o exercício da profissão. A anatomia
humana, também surge como uma das habilidades (talvez, a principal), pois, nas
palavras do próprio Mondeville “(...) o cirurgião que não conhece a anatomia,
comete erros nas operações (...)” (MONDEVILLE, p. 14-15). Foi graças a estas mudanças que a medicina e
a cirurgia, juntamente com os profissionais da área, puderam chegar a um
patamar considerável, no medievo.
Referências
Mauricio Ribeiro Damaceno é professor
efetivo de História pela SEDUC-MT, graduado em História pela Universidade
Estadual de Goiás, Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás,
orientado pela Profª Dra. Dulce Oliveira Amarante dos Santos (UFG); e
Pós-graduando em Ensino de História pela Faculdade Única de Ipatinga-MG.
BALLESTER, Luis Garcia. La medicina en
el panorama de la ciencia y la técnica bajomedievales de la coroa de Castilla.
In: La búsqueda de la salud: sanadores y enfermos en la Espanã medieval.
Barcelona: Península. 2001, p. 41-129.
BARBOSA, Pedro Gomes. Curar em tempos
de Guerra. Medicina castrense na Idade Média. História da Saúde e das Doenças.
Lisboa: Colibri, Universidade de Lisboa, 2012, p. 9-18.
CLARKE,
Clement C. Henri de Mondeville.Yale Journal Of Biology And Medicine. New Haven, VOL. 3, Nº 6, p. 458- 481.
Julho/1931. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/issues/174723>
Data de acesso: 04/04/18.
GOODY, Jack. Montpellier e a medicina
na Europa. In: Renascimento: um ou muitos? São Paulo: Editora Unesp. 2011, p.
53-73.
HASKINS, Charles Homer. A ascensão das
universidades. Balneário Camboriú, SC: Livraria Danúbio Editora. 2015, 119 p.
ICARD, P. Henri de Mondeville
(1260-1325), “le Père méconnu de la chirurgie française”: les raisons de
l’oubli ? In: e-mémoires de l'Académie Nationale de Chirurgie. Paris: Académie
nationale de chirurgie. 2010, p. 11-21.
JACQUART,
Danielle. La médecine Médiévale dans Le
cadre parisien. Paris: Fayard. 1998,
587 p.
LE
GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. A
doença e a medicina. In: Uma história do corpo na Idade Média. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira. 2006 A, p. 105-120.
LECOURT, Dominique. Dictionnaire de la
pensée médicale. Paris: Quadrige/PUF, 2014, 1270 p.
MCVAUGH,
Michael. Stratégies Thérapeutiques: La cirurgie. In: AGRIMI, J. et al. Histoire de la pensée médicale em
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MITCHELL,
Piers D. Medicine in the Crusades: Warfare, Wounds and the Medieval Surgeon.
New York: Cambridge University Press. 2004, 293 p.,
MONDEVILLE, Henri. A Cirurgia. Tradução
de: E. Nicaise, com a colaboração do Dr. Saint-Lager e F. Chavannes. Paris,
1893.
SOUSA, Armando Tavares. Curso de
História da medicina: das origens aos fins do século XVI. 2 ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian. 1996.
De certa forma como o papel da medicina e as técnicas dos cirurgiões medievais da época medieval, exerceu influência na medicina dos tempos atuais ?
ResponderExcluirLeitor: Carlos Vinícius Soares Costa
Boa Tarde, Carlos! Obrigado pela leitura e contribuição!
ExcluirSua pergunta é muito pertinente, visto que, ainda hoje existe uma certa rejeição aos estudos sobre o medievo. A medicina e a cirurgia, são provas das contribuições deste período. São graças aos avanços nestas áreas, que podemos contar com recursos importantes nas práticas médicas no mundo atual. No século XII (quando surgem as universitas), médicos – cirurgiões como Mondeville, puderam ter acesso a teorias antigas e desta forma, melhorá-las. Um exemplo de inovação está na condenação da prática do “pus louvável” que, como o nome diz, pregava a purgação dos ferimentos como forma de cura. Já imaginou usar excremento de cavalo para curar ferimentos? Pois é, foi usado. Henri de Mondeville, no medievo, irá pregar o abandono desta técnica antiga e a adoção da higienização dos ferimentos e a sutura dos mesmo, para uma melhor cicatrização. Limpar a ferida e costurá-la, é uma tarefa básica da medicina atual, não concorda?
Não vamos muito longe: até o medievo, não havia uma instituição que oferecia um ensino formal para a medicina. O curso de medicina, como formação acadêmica, ganha força na Idade Média! O vinho (álcool) passa ser usado para limpeza dos ferimentos a partir do medievo! O uso de bandagens para tampar o ferimento e evitar a contaminação, foi indicado por Mondeville!!
Percebe a quantidade de coisas que temos hoje e que nasceram ou foram aperfeiçoadas no medievo? Espero ter respondido sua pergunta! Grande abraço!
Mauricio Ribeiro Damaceno
A Medicina atual tem influência da Medicina medieval?
ResponderExcluirBoa tarde, Larissa!! Obrigado pela leitura e contribuição!
ExcluirA resposta para sua pergunta é sim! devemos entender a História como um processo. Assim, é certo que a Medicina no medievo foi importante, visto que, muito do que temos hoje, nasceu ou foi adaptado na Idade Média, assim como, muitas técnicas foram abandonadas por não ter mais aplicabilidade. Na resposta à pergunta do colega Carlos, dei alguns exemplos das influencias medievais às práticas atuais: Higienização da ferida, suturação, uso do vinho (álcool) como meio de tratamento, a institucionalização do curso de Medicina, uso de bandagens, etc.
Espero ter respondido sua pergunta! Grande Abraço!
Mauricio Ribeiro Damaceno
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ResponderExcluirPor que Henri de Mondeville é importante para a cirurgia francesa a ponto de ser estudado?
ResponderExcluirElismar Carneiro Pereira
Bom dia, Elismar! Obrigado pela leitura e contribuição!
ExcluirSua pergunta é muito pertinente e a resposta é clara: Henri de Mondeville é considerado o primeiro francês a escrever um texto de cirurgia. Legal né?
Mas não para por ai. Ele passou pela faculdade de Artes Liberais de Paris, formou em Medicina em Montpellier e se especializou em Cirurgia em Bolonha, na Itália. Além disto, foi mestre nas Universidades de Paris e Montpellier e cirurgião do Rei Filipe IV, O belo e Luís X, ambos reis da França. Percebe sua importância para a pesquisa? Ele foi simplesmente um cirurgião letrado em um tempo onde a grande maioria dos praticantes da cirurgia eram cirurgiões-barbeiros (faziam a barba e pequenas cirurgias em clientes), sem qualquer formação acadêmica. Mondeville foi ainda o seguidor de Teodorico Borgognoni (cirurgião italiano), pregando técnicas de higienização e sutura dos ferimentos!
Tudo isto são justificativas para usar a obra de Henri de Mondeville como objeto de nossa análise!
Espero ter respondido sua pergunta! Forte abraço!
Mauricio Ribeiro Damaceno
Olá! Parabéns pela pesquisa.
ResponderExcluirNa idade média o corpo era visto como algo sagrado , acreditava- se que a sacralidade do corpo de Cristo estendiam-se aos demais corpos, vivos ou não, e existia ainda a visão mágico-religiosa onde a doença era vista como castigo de Deus. Essas ideias ainda predominavam quando Mandeville começou a estudar e escrever suas obras?
Obrigada.
Att,.
Carla Eduarda Souza dos Santos
Boa noite Carla! Obrigado pela contribuição!
ExcluirSua inquietação também fez parte dos meus questionamentos recentes. É verdade que segundo as tradições da Igreja baseadas na Sagrada Escritura, o corpo humana era tido como sagrada por ter sido criado à imagem e semelhança do corpo de Deus. No entanto, devemos lembrar de qual período estamos tratando aqui e as diversas circunstancias encontradas. Primeiro que, de acordo com Jacques Le Goff e Nicolas Truong no livro “Uma História do corpo na Idade Média” (2006), o final do século XIII e início do XIV é marcado por uma “ Revolução Mental” onde, com o surgimento do ensino universitário, profissionais desprezados, como os cirurgiões, passam a ser valorizados pela nobreza civil e eclesiástica, dando lhes privilégios. Segundo, é de se salientar que Henri de Mondeville não era um cirurgião qualquer: Ele passou pela faculdade de Artes Liberais de Paris, formou em Medicina em Montpellier e se especializou em Cirurgia em Bolonha, na Itália. Além disto, foi mestre nas Universidades de Paris e Montpellier e cirurgião do Rei Filipe IV, O belo e Luís X, ambos reis da França. Assim, é possível dizer que Mondeville estava em um grupo que conseguia privilégios para facilmente contornar as proibições estabelecidas pela cristandade.
Em terceiro, é importante frisarmos que o documento comumente atribuído como proibitório das práticas cirúrgicas e de dissecação de cadáveres, na verdade não proibia tais atos. O Detestande feritatis inicialmente promulgada em 27 de setembro de 1299 e uma segunda vez a 18 de fevereiro de 1300, ambas pelo Papa Bonifácio VIII, estabelecia a oposição ao desmembramento para transporte dos cadáveres, como aconteceu com o São Luís (Luís IX) e outros membros de sua família; além da violação de sepulturas. Não há no documento, uma proibição clara quanto às intervenções cirúrgicas ao corpo humano.
Por fim, cabe lembrar que Mondeville não era um opositor às leis divinas. Ele, a todo momento, pediu a ajuda de Deus na construção de sua obra e manutenção de sua saúde frágil. Porém, ele entendia que o cirurgião que não conhecia o corpo com precisão, não poderia operar bem. Em uma passagem ele disse que “como o corpo humano é objeto de toda arte médica, da qual a cirurgia é o terceiro instrumento, segue-se que o cirurgião que faz incisões em diferentes partes do corpo e em seus membros, sem conhecer sua anatomia e sua composição, nunca pode operar bem” (MONDEVILLE, p. 15). Essa passagem nos leva a concluir que em busca do conhecimento anatômico apropriado e da prática adequada da cirurgia, o cirurgião dos tempos de Mondeville, precisava violar o corpo humano para saber com exatidão qual a composição e formato de seus membros.
Espero ter respondido sua pergunta! Forte abraço!
Mauricio Ribeiro Damaceno
Boa noite!
ResponderExcluirMauricio, o corpo na idade média era visto como algo sagrado, no ensino sobre idade média esta ideia de sagrado é muito presente, não é abordado sobre a contribuição de Mondeville e principalmentete a dos Árabes, porque não se aborda a Medicina desta maneira é somente quando se trata do Renascimento? Há um desejo de permanecer a ideia que a "Idade Média é idade das trevas".
Artigo excelente, uma contribuição gigantesca, principalmente para nossa atuação em sala de aula, ao abordar o tema.
Muito obrigado.
Gabriela Maciel Ceccon
Boa noite Gabriela! Obrigado pela sua contribuição!
ExcluirComo medievalista, pesquisador da história da medicina na Idade Média e professor da rede de ensino do Estado de Mato Grosso, compartilho de sua angustia todos os dias. A ideia de “Idade das Trevas” parece ainda assombrar a nossa sociedade atual. Os motivos podem estar ligados às dificuldades de pesquisas sobre estas temáticas, a quantidade delas, o números reduzido de documentação, a dificuldade de acesso a essas documentações, as dificuldades relacionadas ao manuseio e tradução destas fontes e muitos outros motivos. Me parece que as pesquisas tem se concentrado nos temas modernos, contemporâneos e pós-contemporâneos (que são igualmente relevantes), por oferecer maior facilidade de pesquisa e um maior público leitor. O resultado disto, é esta escassez de informações, dificultando nosso trabalho em sala de aula.
Mas não sejamos pessimistas! Os campos de batalhas, os castelos, as muralhas, enfermarias, igrejas e vilarejos medievais, sempre estarão disponíveis para aqueles que decidirem cavalgarem nesta exaustiva, mas nobre tarefa, que são os estudos sobre o medievo!!!
Espero ter respondido sua pergunta! Forte abraço!
Mauricio Ribeiro Damaceno
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