HISTÓRIA E IMAGEM:
O DIABO NAS REPRESENTAÇÕES VISUAIS
MEDIEVAIS
(SÉCULOS VI E XII)
As
imagens no período medieval
Este trabalho tem como objetivo
apresentar, de forma introdutória, algumas formas e aparências que o Diabo
recebeu ao longo dos séculos medievais através da análise de duas
representações visuais deste personagem. Nosso objetivo é compreender a relação
entre a evolução física deste personagem e o discurso religioso relacionado ao
mesmo, analisando o afresco intitulado “O bom pastor entre dois anjos” (século
VI, Basílica de Santo Apolinário Novo, Ravenna, Itália) e também a iluminura
intitulada “Teófilo e o Diabo” (c. 1195, Musée Conde, Ms. 9, fol. 35v-36r,
Chantilly, França). Como base metodológica, utilizaremos as propostas de Jean-Claude
Schmitt e Jérôme Baschet para a
aproximação a uma história das imagens no Medievo. Como justificativa, destacamos
que as diversas formas pelas quais o Diabo foi representado durante o Medievo
refere-se a uma relação intrínseca entre a arte e a sociedade, através das
quais a Igreja se utilizou da imagem deste personagem modificando-a de acordo
com o contexto no qual estava inserida.
Um dos períodos que mais produziram
e utilizaram as representações visuais é o Medievo, período no qual existiu uma
cultura da imagem com características originais, principalmente por ser um
tempo dominado pelo cristianismo. Tal afirmação é confirmada pela diversidade
de suportes visuais utilizados para tais representações, como, por exemplo, os
vitrais, afrescos, iluminuras, miniaturas, tapeçarias, retábulos, esculturas,
mosaicos, calendários, entre outros. Diante desta diversidade de suportes,
Jérôme Baschet formulou o conceito de imagem-objeto para representar a relação
entre a materialidade das imagens e a manipulação ritual das imagens:
“Assim, parece demasiado simples falar-se em ‘imagem’ em geral sem associar a esta palavra outros vocábulos que precisarão suas formas, contextos e usos. Jérôme Baschet propôs falar em ‘imagens-objetos’ para atrair a atenção sobre as características materiais e, em relação com estas, sobre os modos de manipulação ritual de várias imagens, quer sejam imóveis ou fixas.” (Schmitt, 2002, p. 591-605).
Além disso, o Medievo é conhecido
também pela sua singularidade de pintura, suas formas, cores e maneiras de
pintar diferenciadas. O tempo medieval, no que desrespeito à imagem, teve suas
peculiaridades em relação às representações visuais. De acordo com Schmitt:
“Antes da ‘época da arte’ e da ‘invenção do quadro’, teria havido, (...) o ‘tempo das imagens e do culto’, ou seja, das concepções e das práticas não essencialmente estéticas, mas principalmente cultuais e rituais das ‘imagens’. De fato, em se tratando da Cristandade medieval, a noção de ‘imagem’ parece ser de uma singular fecundidade mesmo que compreendamos pouco todos os sentidos do termo latino imago. Esta noção está, com efeito, no centro da concepção medieval do mundo e do homem: ela remete não somente aos objetos figurados (retábulos, esculturas, vitrais, miniaturas, etc...), mas também às ‘imagens’ da linguagem, metáforas (...) das obras literárias ou da pregação.” (Schmitt, 2002, p. 591-605).
É importante ressaltar que a
análise de uma imagem não é apenas observar o que está sendo representado, mas
sim buscar principalmente o contexto histórico no qual está inserida para se
compreender a mesma.
Durante o Medievo, as imagens
foram de suma importância para o cristianismo, pois eram através delas que eram
justificadas muitas ações, principalmente as representações que estavam
textualizadas na Bíblia.Entretanto, um dos caminhos mais diretos para se
compreender a função da imagem medieval, é através das palavras de São Gregório
Magno, em pleno ano 600:
“O que os escritos proporcionam a quem os lê, a pintura fornece aos analfabetos que a contemplam porque assim esses ignorantes veem o que devem imitar; as pinturas são a leitura daqueles que não sabem ler, de modo que funcionam como um livro, sobretudo entre os pagãos.” (São Gregório Magno, s/d, p. 1128-1130).
Questões metodológicas
Na Alemanha, no final do século XIX, a história da arte
surgiu como uma disciplina científica, contexto no qual Heinrich Wolfflin e
Alois Riegl, ou seja, seus criadores, definiram os objetivos e métodos que
seriam aplicados a mesma. Porém, “a necessidade de fundar a disciplina sobre
bases científicas também conduziu os historiadores da arte a se fecharem em
limites às vezes demasiados estreitos” (Schmitt, 2002, p. 591).
De acordo com Schmitt, o
historiador deve se ater às especificidades das imagens medievais,
principalmente quando comparadas as nossas imagens atuais. A relação entre as
imagens medievais em termos de constituição obedece a regras completamente
distintas das quais aprendemos no contexto do Renascimento (Schmitt, 2002,
p. 591-605). Ademais, a relação entre imagem e o objeto invisível era recorrente
na justificativa para a criação das imagens medievais, uma vez que: “A imagem medieval não ‘representa’
Deus, os patriarcas ou os santos, nem mesmo a vida contemporânea dos homens
(...). A imagem medieval ‘presentifica’
(...), o invisível no visível, Deus no homem, o ausente no presente, o passado
ou o futuro no atual.” (Schmitt, 2002, p. 591-605).
Além disso,
segundo Schmitt:“(...) as
imagens não devem ser ‘adoradas’ como o são os ídolos pelos pagãos, mas também
não devem ser destruídas. Elas têm de fato uma tripla função: lembram a história sagrada; suscitam o arrependimento dos pecadores; enfim, instruem os iletrados que, ao
contrário dos clérigos, não têm acesso direto à Bíblia.” (Schmitt, 2002,
p. 591-605).
As imagens medievais nos levam sempre a uma mensagem imbuída nas suas
representações. O fato de que o sentido da imagem deve ser buscado sempre além
daquilo que ela parece “representar”, “ilustrar” ou “dizer” contribui para
mostrar o parentesco entre a imagem material e as “imagens mentais”, vínculo
muito procurado nas representações visuais medievais (Schmitt, 2002, p. 594).
Desta forma, para tonar possível a compreensão das mensagens que podemos
encontrar nessas representações é necessário ver além daquilo que ela pode nos
ilustrar, pois um dos maiores objetivos daquelas representações visuais era
transmitir uma mensagem, diferente da arte renascentista que nos fascina pelo
seu rebuscado.
A
comparação visual do Diabo entre os séculos VI e XII
As imagens que analisamos neste
trabalho de acordo com as perspectivas já apresentadas ao longo do texto, são
duas: o afresco intitulado “O bom pastor entre dois anjos” (século VI, Basílica
de Santo Apolinário Novo, Ravenna, Itália) e também a iluminura intitulada
“Teófilo e o Diabo” (c. 1195, Musée Conde, Ms. 9, fol. 35v-36r, Chantilly,
França).
O Diabo,
até o século XI, era pouco retratado nas formas visuais. Estava quase sem
presença nas representações visuais. Por exemplo, Muchembled destaca que o
Diabo se mostrou discreto até o ano mil. Havia um interesse por parte de
teólogos e moralistas, mas, mesmo assim, as representações visuais não o
representaram de forma constante, com seria séculos depois. Ademais, Muchembled
interpretou esta característica como uma “ausência de uma grande obsessão
demoníaca” naquela sociedade (Muchembled, 2001, p. 19).Deve-se relembrar que a
produção cultural no Ocidente medieval era um apanágio dos monastérios, e,
dessa forma, a figura do Diabo foi utilizada “profundamente como advertências”
(Russel, 2003, p. 87).
Uma de
suas primeiras imagens foi no século VI e foi descrito como um anjo caído dos
céus por tentar medir forças e querer tomar o poder de Deus. No afresco
intitulado “O bom pastor entre dois anjos”, temos uma representação
de um personagem central e dois laterais, os quais podem ser considerados como
anjos, uma vez que apresentam asas em suas costas. Cada um destes anjos está representado
com uma cor diferente, no caso, vermelho (esquerda) e azul (direita). Ademais,
também há a representação de animais no afresco, com a presença de ovelhas
(esquerda) e bodes (esquerda). Considerando a característica religiosa das
imagens produzidas no Medievo, principalmente em um contexto do começo deste
período, a cena descrita anteriormente coincide com a passagem bíblica que está
em Mateus 25, 31-33: “Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os
anjos, ele se assentará em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão
reunidas diante dele, e ele separará uma das outras como o pastor separa as
ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua
esquerda.” (Mateus 25, 31-33).Considerando que o personagem central está
inclinando o seu braço direito para a sua direita, em um movimento de eleição
dos que estão neste lado, compreendemos que este gesto significa o gesto da
salvação daqueles que se colocaram no lado direito.
Imagem 1
O bom
pastor entre dois anjos
Século
VI, Basílica de Santo Apolinário Novo, Ravenna, Itália
Antes de
continuar a análise da imagem, deve-se observar uma característica metodológica
importante na análise de imagens. No presente caso, a relação entre a
literatura e a imagem e, neste caso específico, a literatura bíblica. O diabo
do século VI era um diabo monástico, ou seja, estava presente somente na
escrita e nas reflexões dos monges do começo do Medievo. Estes, ao viverem uma
vida voltada para as reflexões bíblicas, ao elaborarem as representações
visuais de aspectos, personagens, fatos, etc..., do cristianismo, faziam-no a
partir de suas referências bíblicas.
Sabemos que até o ano 1000 não havia uma
representação visual específica do Diabo e a Igreja tinha a necessidade de
utilizar a sua imagem para controlar socialmente a população para que permanecessem
fiéis e com temor, usando então o medo do inferno como meio de causar esses
sentimentos para que não se desviassem da sua fé. De acordo com Russel: “A
cultura medieval no Ocidente estava isolada e dominada pelos monastérios,
então, os padres do deserto utilizaram a diabologia profundamente como
advertências, as quais foram incorporadas, mostrando como lidar com o mal em um
mundo áspero e inseguro.” (Russel, 2003, p.87). Neste sentido, a representação
do Diabo encontrada no afresco “O bom
pastor entre dois anjos” do século VI, está imergida em uma cultura bíblica, a
qual era a principal referência do cristianismo naquele contexto,
principalmente para as elaborações culturais visuais.
A
outra imagem que nos propomos analisar brevemente neste trabalho trata-se da
iluminura intitulada “Teófilo e o Diabo”, do final do século XII. Diferentemente
da imagem analisada anteriormente, do século VI, trata-se de uma representação
animalesca sobre o Diabo, elaborada no final do século XII. É necessário
destacar que até antes do século XI observa-se a imagem do Diabo
ilustrada de outras formas e desempenhando outros papeis perante os homens e o
seu objetivo de persuasão para o mal, tais como monstro (Anglo Saxon miscellany,
Canterbury, c. 1050, British Library, Cotton Tiberius B V 1, fol. 87v), como um
ser deformado (Beatus of Liébana, Commentaria in Apocalyps in Saint-Sever, c.
1072, Bibliothèque Nationale de France, Latin 8878, fol. 159r) ou como um mau governante,
no afresco sobre os efeitos do bom e do mal governo, de Ambrozio Lorenzetti (Palácio de Siena, 1338-1340). De
fato, o ano mil representou um momento no qual ocorreu uma modificação visual
do Diabo com foco para a sua animalidade.Tal perspectiva é confirmada pelas
palavras de Robert Muchembled:
“Enquanto Raoul Glaber ou os escultores góticos imaginavam o Maligno como um ser humano disforme, as pessoas da Idade Média tardia o empurravam resolutamente para fora de sua esfera humana, em direção a um universo animal tornado mais inquietante a partir do século XII.” (Muchembled, 2001, p. 39).
E é esta forma animalesca
que encontramos na iluminura intitulada “Teófilo
e o Diabo” (c. 1195, Musée Conde, Ms. 9, fol. 35v-36r, Chantilly, França).
Imagem 2
Teófilo e o Diabo
(c. 1195), Musée Conde, Ms. 9,
fol. 35v, Chantilly, França
Imagem 3
Teófilo e o Diabo
(c. 1195), Musée Conde, Ms. 9,
fol. 35vr, Chantilly, França
Ao assumir esta aparência animalesca,
o Diabo era representado com mais uma de suas facetas, a qual, a partir do
século XI, teria cada vez mais influência na sociedade. Conforme afirma
Jérôme Baschet, a importância do Diabo foi se ampliando durante o decorrer do
Medievo, e a sua representação específica, com ênfase em sua monstruosidade e
animalidade, foi se efetivando a partir do ano mil. (Baschet, 2002, p.
319-330).
As imagens 2 e 3 indicam a
presença de três personagens. O primeiro, Teófilo, movido pela ambição recorre
a um pacto de vassalagem com o Diabo para obter o desejado. O segundo
personagem está na figura do diabo que é colocado de forma imponente na
primeira imagem, de pé, em uma postura e corpo muito parecidos com a
representação de um homem, mas os chifres e o rabo evidenciam algumas das suas
principais características animalescas neste contexto. O terceiro personagem,
Maria, está estritamente vinculado como um dos principais adversários do Diabo,
pois, em outras representações, podemos observar o embate entre essas duas
forças sagrada e profana. Tantos nas imagens medievais como na sociedade em
geral, não há divisão estrita entre “profano” e “sagrado, (Schmitt, 2002, p.
598).
Observando as imagens 2 e 3,
vemos que há quatro quadros os quais podem ser analisados sequencialmente para
que possamos compreender a narrativa da imagem. No quadro 1 (imagem 2),
observamos Teófilo ajoelhado colocando suas mãos entre as mãos do Diabo, que
está em pé e segurando um pergaminho com a seguinte inscrição: “ego sum homotuum”
(“eu sou o teu homem), inscrição presente em um contrato que representa o ato
de tornar-se vassalo de um senhor, ou seja, tornar-se o seu homem. Esta cena trata-se
da representação de uma homenagem, ou seja, o ato pelo qual um homem tornava-se
vassalo de um senhor (Bloch, 2001, p. 159-161). Observando o contexto de
produção da imagem, ou seja, o aproximadamente no ano 1195, estamos em pleno
feudalismo. Dessa forma, temos uma representação visual sendo influenciada pelo
contexto de produção, representando o Diabo como um senhor feudal. Neste
sentido, Teófilo tornou-se vassalo do Diabo. No caso deste personagem,
percebe-se diversas características que o tornam com um aspecto animalesco,
como os chifres, o rabo e as orelhas pontudas. No quadro 2 (imagem 2),
observamos Teófilo em uma posição de arrependimento, colocando-se em um nível
inferior ao outro personagem do quadro, no caso, Maria, e também com as mãos
apostas, em uma espécie de súplica sendo feita a mesma. No quadro 3 (imagem 3),
temos a representação de Maria tomando o contrato das mãos do Diabo, e o mesmo
voltado para o lado contrário da mesma, ou seja, como se estivesse fugindo da
investida de Maria. Por fim, no último quadro (imagem 3), temos a presença de
Maria devolvendo o contrato a Teófilo, que é representado dormindo. Embora a
narrativa dos quadros reflete a presença de Maria e uma das principais funções
realizadas por esta personagem no âmbito do Cristianismo, o que interessa a
este trabalho é a representação do Diabo, neste caso, uma representação
animalesca.
As imagens analisadas,
embora sejam de séculos distantes (VI e XII), demonstram claramente não somente
a evolução da representação visual do Diabo, de anjo a animal, mas também
indicam a estreita relação da mesma com o contexto no qual foram elaboradas.
Conclusão
Ao longo dos séculos do Medievo,
o Diabo apresentou diversas formas e aparências. Nos primeiros séculos do
Cristianismo, a imagem do Diabo foi pouco debatida e representada nas artes,
chegando a ser representado como um anjo. Durante o contexto do ano 1000, o
Diabo se modificou e recebeu formas e cores diversas, ganhando perspectivas
animalescas. Mais adiante, no século XII, sua imagem voltou a se modificar,
inserindo-se na sociedade através de sua representação como senhor feudal. No
final do Medievo, surgiu o fenômeno da demonologia no Ocidente medieval e então
este personagem foi associado à perspectiva herética (Muchembled, 2001;
Boureau, 2016). Neste sentido, podemos observar que a representação da figura
deste personagem obedece a parâmetros de historicidade, e cada representação
somente pode ser compreendida desde que analisada a partir do seu contexto de
composição.
No decorrer desse texto foi
possível observar, de forma introdutória, as transformações que a imagem do
Diabo sofreu ao longo dos séculos medievais, focando nas representações
angelicais e animalescas. Do anjo ao animal, o Diabo influenciava na
personalidade do homem, claro que na expectativa de leva-lo ao inferno com seu
mal comportamento.
Deve-se ressaltar as questões
metodológicas utilizadas para a análise das imagens em questão, principalmente
no que diz respeito a relação das mesmas com os seus contextos de composição,
uma vez que a própria representação do Diabo obedeceu a contextos e ideias
distintas, sendo apropriado cada vez mais pelo mundo monástico somente a partir
do século XI, e consequentemente, também na sociedade.
Dessa forma, trabalhar com as
representações visuais do Diabo no contexto medieval é um exercício de
desconstrução que muitas das vezes faz confrontar perspectivas contemporâneas
sobre o personagem com representações distantes do nosso tempo. Neste sentido, ao
se trabalhar com fontes visuais medievais devemos nos ater aos diversos
conselhos proporcionados por Jérôme Baschet e Jean-Claude Schmitt, os quais
tornam o período medieval um contexto específico em relação à produção
historiográfica visual.
Referências
Luciano José Vianna é Professor
Adjunto de História Medieval da Universidade de Pernambuco/campus Petrolina. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação
em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI) da
Universidade de Pernambuco/campus
Petrolina. Doutor em Cultures en contacte a
la Mediterrània pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). Membro do Institut d’Estudis Medievals (UAB-IEM).
Coordenador do SpatioSerti – Grupo de
Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus
Petrolina).
Fontes visuais
O bom pastor entre dois anjos,(século VI), Basílica de Santo
Apolinário Novo, Ravenna, Itália.
Teófilo e o Diabo, (c. 1195), Musée Conde, Ms. 9, fol.
35v-36r, Chantilly, França.
Fontes textuais
SÃO GREGÓRIO MAGNO. Epistolae. Epistola ad Serenus, XI, 13. (Patrologia Latina 77, col.
1128-1130).
Bibliografia
BASCHET,
Jérôme. Diabo. In: Dicionário Temático
do Ocidente Medieval. Vol. 1. São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo,
2002, p. 591-605.
BLOCH,
Marc. A Sociedade Feudal. Lisboa:
Edições 70, 2001.
BOUREAU, Alain. Satã
herético. O nascimento da demonologia na Europa medieval (1260-1330).
Campinas: Editora Unicamp, 2016.
MUCHEMBLED, Robert. Uma
história do Diabo. Séculos XII-XX. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2001.
RUSSEL,
Jeffrey Burton. Lúcifer, o Diabo na
Idade Média. São Paulo: Madras, 2003.
SCHMITT,
Jean-Claude.Imagens. In: Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Vol. 1. São
Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo, 2002, p. 591-605.
Parabéns pelo texto e pela discussão levantada, Juliana e Luciano! Fiquei encantado e, ao mesmo tempo, bastante intrigado com o texto, sobretudo no que diz respeito ao fato de o diabo começar a ser representado visualmente somente a partir do século XI, isto é, já na Baixa Idade Média.
ResponderExcluirDiante disso quero propor uma reflexão. Transpondo para o contexto atual (histórico e geográfico), no Brasil da contemporaneidade a representação do diabo tem sido retomada com muita força, principalmente por igrejas neopentecostais para advertir o fiel e mantê-lo dentro dos limites de sua crença/doutrina religiosa. Relacionando então ao artigo, seria demasiado supor que temos uma permanência histórica que remonta ao período medieval e, sobretudo, à Baixa Idade Média, considerando evidentemente as especificidades históricas e geográficas?
Fábio Alexandre da Silva
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá Fábio, bom dia.
ExcluirObrigado pelo comentário.
Na verdade, o trabalho está voltado para o contexto medieval, a partir de uma comparação literária (bíblica) e visual (imagem) relacionado aos contextos em questão (início do cristianismo e feudalismo). Para uma comparação com um fenômeno atual deveríamos aprofundar um pouco mais o texto. Entretanto, em termos de permanência histórica, podemos afirmar que houve um contato com o contexto medieval a partir do pensamento que se fez presente na América portuguesa a partir do século XVI, com a presença de homens que, de acordo com Jacques Le Goff, eram "homens medievais". Neste sentido, haveria diversas "permanências históricas", as quais foram sendo moldadas (ou seja, obtendo especificidades) com o passar do tempo.
Juliana Gomes Rodrigues e Luciano José Vianna
Muito interessante a pesquisa. Levando em consideração a construção da literatura bíblica no imaginário social, o ensino de história e a formação de uma sociedade mais crítica, seria presunçoso dizer que as desconstruções do livro bíblico para se refletir enquanto livro de mitos contribuem para a desnaturalização de preconceitos (a relação que se faz de uma pessoa com problemas psíquicos com a possessão de demônios, ou ainda a ruptura de valores tradicionais em geral, como as relações afetivas, as formações familiares de modelo não nuclear, etc.), de estereótipos (como no caso da mulher e sua relação historicamente construída à associação com a "tentação", com o diabo)?
ResponderExcluirGraziele Rodrigues de Oliveira
Olá Graziele, bom dia.
ExcluirInteressante a colocação, mas o artigo não aborda esta perspectiva. Neste caso, acredito que deveríamos nos voltar para uma bibliografia teórica envolvendo mitos para ter um caminho a seguir inicialmente.
Juliana Gomes Rodrigues e Luciano José Vianna
Olá Juliana e Luciano. Gostaria, primeiramente, de parabenizá-los pela pesquisa e pelo texto apresentado ao Simpósio! Nenhuma dúvida extra texto ou, até mesmo, do próprio texto vieram em minha mente. Gostaria, apenas, de indicar uma leitura e uma ferramenta teórica para auxiliá-los no futuro, caso a pesquisa ainda continue. A leitura é o livro do Carlos Nogueira "O Diabo no Imaginário Cristão". O autor faz todo um histórico da figuração e transformação do modus operandi da personagem a partir da narrativa bíblica, de textos clássicos de santos e padres da igreja da Idade Média e, também, usa do suporte imagético para ganhar em profundidade na pesquisa.
ResponderExcluirA ferramenta teórica que pode ser utilizada para pensar, principalmente a Imagem 2, é o conceito estético de 'Grotesco'. Apesar de ser mais utilizado no campos das Artes que da História, acho que vale a pena dar uma lida sobre, a fim de que vocês possam articular os elementos humanos + animalescos na representação imagética do Diabo na iluminura em questão.
Espero ter ajudado, mais uma vez, parabéns pela pesquisa e pelo tema, também, bastante interessante!
Lunielle Bueno
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOi Lunielle Bueno, Que bom que você gostou da nossa pesquisa. Obrigada pela sugestão!
ExcluirJuliana Gomes Rodrigues, Luciano José Viana
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns aos autores pela pesquisa aqui apresentada, o conteúdo abordado é muito interessante a mim e acredito tocar em assuntos chave para o entendimento da história medieval, como a representação de símbolos alterar-se conforme o período histórico, e é em relação a isso que gostaria de perguntar. Realizei um trabalho para a matéria de História Moderna I na graduação em que discutia a representação moderna do diabo a partir da obra Paraíso Perdido de John Milton, e no trabalho em questão a representação do diabo seguia as características de uma figura monárquica, em alusão ao ideal político do autor, que era republicano e protestante. Neste sentido, há uma tendência à representação do diabo em suas figurações temporais enquanto uma alusão às civilizações externas e/ou antagonistas à cristandade ocidental, por exemplo, associado aos muçulmanos? Aguardo suas concepções sobre o assunto, e parabéns novamente Juliana e Luciano pela pesquisa apresentada!
ResponderExcluirGuilherme Tavares Lopes Balau
Olá Guilherme, obrigado pela pergunta.
ExcluirBom, no final do Medievo temos uma representação do chamado "Bom governo e mau governo", de Ambrogio Lorenzetti, um afresco muito conhecido. O interessante deste afresco é que o mau governante apresenta características diabólicas (chifres, dentes, etc...), sendo muito próximo à representação do diabo na época. Agora, se existem imagens associadas à civilizações externas ou antagonistas à cristandade ocidental, eu não saberia te responder. Mas, é um tema que vale a pena se aprofundar...
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
Cumprimentos ao autor!
ResponderExcluirO texto me trouxe memória de um trabalho feito, sintonia próxima, que é sobre o purgatório. Acrescendo pontos pelos seus escritos, apenas pontuo (e que se quiser responder seria ótimo) a correção de lógica da imagem do Demônio com a lógica do purgatório, que é marcadamente “similar” sobretudo em uso de cores e formas (técnica); no purgatório tem se as pinturas em tons escuros (escalas de cinza, preto e também em cor de fogo, com chamas), com imagens de seres desconexos e aparentemente perturbados, que foge da ordem e com paisagens muitas das vezes sendo caminhos, locais de passagem - o seu texto me traz memória de um trabalho e que vejo que há semelhanças com as representações do purgatório, que indago-o se concorda.
Douglas Felipe Gonçalves de Almeida.
Olá Douglas, obrigado pela pergunta.
ExcluirÉ uma boa pergunta para um viés comparativo; na verdade, recordando as imagens que já analisei do Diabo a partir do século XII há algumas semelhanças nas cores - principalmente escuras. Agora, para poder responder com mais precisão, somente com a realização de um estudo comparativo mais profundo.
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
Nossa, o estudo de vocês me despertou muito para futuros projetos de pesquisa! Fiquei muito grata e feliz!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!
Gostaria de saber se essa concepção do diabo, no período Medieval influência outras religiões - além do próprio cristianismo - a explanarem essa figura como algo punitivo e obscuro e de feições animalescas e caricatas?
Ivana Calheira Sampaio
Oi Ivana, fico feliz que tenha gostado do texto!
ExcluirÉ uma boa pergunta; na verdade, seria interessante observar este fenômeno. Necessitaria uma pequisa mais profunda para te dar uma chave de resposta ou um caminho a seguir.
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
Parabéns pelo texto, achei muito interessante o quanto a prática do feudalismo interferiu na construção do Diabo no período medieval. Vocês possuem mais pesquisas sobre o assunto? Agradeço pela atenção,
ResponderExcluirAtt: Ligia Daniele Parra
Oi Ligia, Bom dia!
ExcluirObrigada pela pergunta. Temos sim, nós analisamos essas transformações ao longo do período medieval, até o início do século XVI.
Juliana Gomes Rodrigues, Luciano José Viana
Professores Juliana, Luciano e demais participantes Boa Noite!
ResponderExcluirO tema Medievo é um dos que mais fascinam pra mim e mostra que em especial a figura do Diabo teve um destaque grande durante esses 10 séculos que foi o Medievo, talvez devido à grande influência ou melhor dizendo, domínio do Cristianismo.
Minha pergunta é: Existe ainda bastante documentação pra ser estudada com relação a esse tema mesmo tendo se perdido muito material que foi destruído pela própria Igreja Cristã?
Valmir da Silva Lima.
Olá Valmir,
ExcluirAcredito que sim. Documentação hagiográfica, sermões, documentação visual dos mais variados suportes, etc..., e hoje com a internet você consegue ter acesso a imagens principalmente de diversos séculos que poderiam ser abordadas em algum estudo acadêmico.
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
Parabéns pelo texto! muito claro e objetivo. As figuras controversas do período medieval me encantam!
ResponderExcluirGostaria de saber se há um motivo para a mudança de aparência do Diabo? de repente "novos" pecados, que fizeram ter sido necessária a criação de uma figura mais assustadora?
Não entendi também a primeira figura. Porque o Deus está fazendo o gesto de salvação, o movimento de eleição, para o lado das ovelhas ( que nas alegorias são a representação dos fieis) mas quem está atrás das ovelhas é o anjo de coloração vermelha ( que sempre é associado ao pecado).
Outra dúvida é, se a representação do Diabo no seculo XII, como senhor feudal, seria uma critica velada a sociedade daquela época?
Thayse F. Rosa
oi Thayse, Bom dia!
ExcluirAntes de tudo obrigada pela participação. A figura do Diabo é algo que vem sendo construído ao longo dos séculos, então ele vai se modificando e se adequando de acordo com as "necessidades" tendo em vista que uma de suas funções é o controle social. Na análise da considerada primeira representação do Diabo nós temos que considerar as passagens bíblicas, uma vez que era algo novo e essa relação de cores ainda não estava bem definida. Em Mateus capítulo 25, versículos 31 a 33 ele deixa claro quem seria o anjo bom e quem seria o anjo caído: “Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, ele se assentará em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará uma das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.” .Considerando que o personagem central está inclinando o seu braço direito para a sua direita, em um movimento de eleição dos que estão neste lado, compreendemos que este gesto significa o gesto da salvação daqueles que se colocaram no lado direito.
Em relação a imagem do século XII é perceptível a diferença de aparência, uma vez que, a representação animalesca inicia-se ainda no século XI. Não seria uma crítica e sim um "alerta" para a sociedade que se precisassem de algo recorressem a Deus e não ao Maligno. É importante lembrar que todas essas imagens retratadas no medievo elas tinham a função de orientar aos iletrados então essa ideia de crítica não era almejado.
Juliana Gomes Rodrigues, Luciano José Viana
Maravilhoso é a palavra para definir o trabalho de vocês. Gostei bastante e a dinâmica com que vocês conseguiram colocar no texto é fantástico. É impressionante como as várias formas que a sociedade impondo sobre algo ou alguém e de como essa característica vai criando moldes com o passar tempo. Estou bastante contente com o texto de Vocês. E gostaria de saber trazendo esse tema abordados por vocês para sala de aula, seria possível? Se sim, qual modo poderia ser feito para dinamizar a aula através do tema de vocês?
ResponderExcluirAss: Lucas Paes do Amaral
Oi Lucas,
ExcluirAcredito que seja possível, principalmente uma fonte como as imagens, que são muito ricas e interessantes para se trabalhar em sala de aula. Neste caso, em termos metodológicos, eu indico o capítulo escrito pelo prof. José Rivair Macedo que está no livro organizado pelo prof. Leandro Karnal "A história na sala de aula". Por exemplo, um dos caminhos apontados por Macedo para o ensino de história medieval é analisar os gestos das imagens, o que ele chama de "civilização dos gestos", entre outros aspectos metodológicos que você encontra no texto. Sugiro a leitura.
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
Obrigado pela dica.
ExcluirLucas Paes do Amaral
Parabéns pelo excelente trabalho, o texto ficou incrível!
ResponderExcluirVisto que até o século XI eram poucas as retratações do Diabo nas formas visuais, podemos dizer que o aumento dessas imagens e a modificação na forma de retratá-lo (mais monstruoso e animalesco) podem configurar uma transformação no imaginário social da época?
É muito interessante pensar nessa representação do Diabo como senhor feudal. Tal abordagem poderia ser vista como uma crítica do autor ao contexto em que vivia e às relações feudais que se estabeleciam nele? Qual a opinião dos autores sobre isso?
Bianca Gomes Barroso
Oi Bianca,
ExcluirSim, houve uma mudança no século XI em relação à figura do Diabo e, consequentemente, no imaginário social da época, deixando de ser somente um diabo que estava no discurso monástico e, posteriormente, no século XIV, será um diabo herético. Na verdade, o que você tem no século XI (e no XII também) é uma igreja feudalizada, ou seja, muitos de seus personagens estavam inseridos na dinâmica feudal, o que, de certa forma, os retirava do contexto religioso (com os seus ideais, forma de vida, etc...). Neste sentido, o resgate de Teófilo por Maria está de acordo justamente com a proposta de "resgatar" estes personagens desta dinâmica e, para isso, a figura de Maria - que terá o seu auge de culto nos séculos XII e XIII - surge na imagem.
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
“(...) as imagens não devem ser ‘adoradas’ como o são os ídolos pelos pagãos, mas também não devem ser destruídas. Elas têm de fato uma tripla função: lembram a história sagrada; suscitam o arrependimento dos pecadores; enfim, instruem os iletrados que, ao contrário dos clérigos, não têm acesso direto à Bíblia.” (Schmitt, 2002, p. 591-605).
ResponderExcluirExcelente!
Muito interessante o trabalho, é uma rica elaboração. Trouxe uma reflexão e o sentimento de comparação com o tempo presente. Portanto, gostaria de saber de que forma podemos realizar uma leitura de imagens que se estabeleça a relação comparativa como forma de compreender a ''leitura geral'' para ''a leitura particular'' entre A representação mal no tempo medieval vs. As figuras que representam o mal a partir da leitura popular no tempo presente ?
Ana Lúcia MALTA Nery dos Santos
ResponderExcluirPrimeiramente parabenizo o autor e autora do texto.
ResponderExcluirA figura do diabo nesse período possuía um aspecto meramente religioso, de controle dos "crentes", ou podemos falar que sua imagem também faz parte de um poder simbólico para controle das massas em geral?
Olá Gabriel, interessante a sua pergunta.
ExcluirA figura do Diabo apresenta um viés histórico, voltado para determinados contextos internos ao Medievo. Em um primeiro momento, você observa o mesmo com um viés literário com base na Bíblia (século VI); posteriormente, você o observa como um personagem na literatura monástica (século IX); posteriormente, um Diabo feudal (século XII) e, no XIV, um Diabo herético, considerado já como um inimigo da cristandade. Ou seja, o seu "poder" de atuação nas massas em geral se iniciou somente a partir do XIII-XIV, aproximadamente. Até então estava presente somente em um discurso monástico.
Luciano José Vianna e Juliana Gomes Rodrigues
Perfeito. Obrigado pela resposta.
ExcluirAbraços
Parabéns pelo texto! Gostaria de saber se esse caráter multifacetado da representação do Diabo nas pinturas medievais ajudaram na construção da imagem de um personagem que usa o mal e a punição para reafirmar o poder de Deus? Em outras palavras, pode-se dizer que a imagem do Diabo era vista e usada especificamente como uma espécie de punição à heresia e/ou não devoção a Deus?
ResponderExcluirClarisse Louzada Freitas
Boa noite!
ExcluirObrigada pela participação. A imagem/representação do Diabo surge com o intuito de amedrontar a população. Então essas imagens serviam para que a Igreja incentivasse através da cultura do medo as pessoas a participarem ativamente do que era proposto por ela.
Juliana Gomes Rodrigues, Luciano José Viana.
boa noite parabéns pelo texto.
ResponderExcluirGostaria de perguntar, nas representações didáticas direcionadas a população, havia preocupação para com a suas interpretações em relação ao mal e bem ?
leandro de almeida costa
Boa noite!
ExcluirObrigada pela participação. Sim, quando se trata do período Medieval todas essas imagens retratadas pela Igreja tinha o intuito de comover a população, uma vez que, tal instituição detinha o controle da sociedade. As imagens por parte desta instituição tinha como objetivo de "doutrinar".
Juliana Gomes Rodrigues, Luciano José Viana
Boa Noite parabéns pelo texto.
ResponderExcluirGostaria de saber se nas imagens com representação diabólicas, reproduziam também o sentimento perante aqueles já excomungados pela igreja como bruxas, homossexuais e outros
Leandro de Almeida Costa