Douglas Mota Xavier de Lima


O MEDIEVALISMO NO BRASIL E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO


“Por três dias o Jardim Botânico [Brasília/DF] vai se transformar num tipo de túnel do tempo que levará o público a um universo de cavaleiros, armaduras, espadas e dragões. Entre os dias 17/6 e 19/6, o Festival Medieval Brasil 2016 leva ao local uma reconstituição histórica, com cenários temáticos e uma programação de apresentações artísticas, esportivas e gastronômicas que remetem à Idade Média” (Metrópoles, 2016)

O Festival Medieval Brasil (FMB), realizado anualmente em Brasília, é exemplo de uma programação cada vez mais comum nas capitais brasileiras, especialmente no centro-sul, que envolve festas, danças, comidas, lutas e encenações relativas ao medievo.Grupos fantasiados de bruxas, cavaleiros, elfos e outros seres fantásticos, pessoas usando armaduras em combates medievais, tendas vendendo hidromel, grupos tocando músicas celtas, restaurantes oferecendo banquetes medievais, grupos reunidos em acampamentos vikings, são inúmeras as atividades que permitem ao público brasileiro experienciar a época medieval num misto de história e fantasia. No próprio site do FMB, por exemplo, descreve-se que a programação do evento abarca:

Museu de Artefatos Medievais FMB; artesãos; forjas; Mercado Medieval Excalibur; Campeonato Brasileiro de Hema (Esgrima Histórica); arqueria; esgrima e artes asiáticas; softcombat; larp; boffering; equitação; RPG/Board Games; falcoaria; e várias outras como o novo Bestiarum (Museu de espécies e feras coordenado pelo Departamento de Zoologia da UnB), e a Vila dos Magos.”

Esse ‘gosto pela Idade Média’vivenciado no Brasil, para remetermos à instigante obra de Christian Amalvi, é indício de um movimento internacional muito mais amplo e que se exemplifica no significativo volume de livros, jogos, filmes e séries de Tv lançados nas últimas décadas, movimento que, talvez, tenha sua melhor expressão contemporânea no sucesso recente da série de livros ‘A Song of Ice and Fire’(‘As Crônicas de Gelo e Fogo’, em português) de George R. R. Martin, e da adaptação desta para a televisão com a série Game of Thrones. Pode-se ainda lembrar das obras de J. R. R. Tolkien e de C. S. Lewis, fundamentais para a construção da fantasia medieval; do universo Disney, permeado de cavaleiros, príncipes, princesas e castelos; do sucesso literário de Bernard Cornwell, explorando o universo saxônico;ou da série Vikings, ícone do frenesi escandinavo presente na mídia. São inúmeros os exemplos de uma Idade Média presente no cotidiano contemporâneo.

Diante da atualidade e relevância do tema, este texto estrutura-se em três eixos: primeiramente, procura-se apresentar alguns apontamentos acerca da noção de medievalismo e da diversidade de estudos na temática; em segundo lugar, busca-se caracterizar o cenário nacional do medievalismo, enfatizando os festivais e a vertente do recriacionismo; por fim, discute-se o potencial pedagógico do medievalismo, situando, em especial, atividades realizadas com graduandos de Licenciatura em História.

Medievalismo: breves considerações
A Idade Média constitui um tempo e um objeto de investigação reinventado, sonhado e difundido por diferentes veículos.Nas últimas décadas assiste-se, em especial nos Estados Unidos e em algumas historiografias europeias, como a francesa e a inglesa, o desenvolvimento de estudos acerca da recepção da Idade Média pelos séculos posteriores, reapropriação presente na literatura, na arquitetura, no cinema, na música, nas histórias em quadrinhos, etc.

Este campo de estudos tem sido denominado de medievalism, em inglês, sendo a expressão utilizada como referência da Society for the study of medievalism, fundada em 1976, e da principal publicação da área, a revista Studies in Medievalism, publicada desde 1979; em francês, o termo médiévalisme tem se afirmado, diferenciando-se dos termos médiévisme ou médiévistique (Ferré, 2010), e orientando as pesquisas da Association Modernités Médiévales, fundada em 2004.Em português e espanhol o campo ainda não conseguiu afirmar sua especificidade, sendo expressão disso a diversidade de termos utilizados para tratar do uso do passado medieval,ora entendido como reminiscências medievais ou medievalidade (Macedo, 2009), como ressurgências (Nascimento, 2015), ora como medievalismo (Porto Júnior, 2018a; 2018b). Nas historiografias ibéricas e brasileira, este termo é utilizado, por vezes, para referenciar os estudos medievais em geral (cf.:Aurell, 2008;Rosa & Bertoli, 2010; Amaral, 2011), sendo emblemático o seu uso como título da publicação Medievalismo, revista que tem o objetivo de publicar investigações sobre o período medieval, com especial atenção ao medievo hispânico. Cabe ainda acrescentar o termo neomedievalismo, cunhado por Umberto Eco (1986) e que ganhou apropriações recentes nos estudos medievais (Fugelso, 2010), frequentemente associado a trabalhos teóricos e de política internacional.

Em linhas gerais, observa-se que, apesar da historiografia anglófona e francesa apresentarem contornos mais definidos acerca da noção de medievalismo, sobressaem nos estudos atuais diferentes usos da terminologia, os quais abarcam, por exemplo, investigações sobre a construção de identidades nacionais mobilizando o passado medieval; a relação entre a medievalística (a história medieval científica) e o medievalismo; e os usos não científicos da Idade Média entre o século XIX e a atualidade (Rosa, 2017). No presente trabalho, o termo Medievalismo será utilizado no intuito de remeter às recepções da Idade Média pelos séculos posteriores, especialmente presentes na cultura de massa (quadrinhos, séries e filmes), na literatura, nos jogos (games e board games), na arquitetura, em festivais e no recriacionismo, afastando-se, desta maneira, a noção de Medievalística, entendida aqui como o campo de pesquisa dedicado ao estudo da Idade Média em diferentes áreas do saber, como a História, as Letras, as Artes, a Filosofia e o Direito.

O medievalismo no Brasil
Especificamente em relação ao Brasil, pode-se afirmar que tanto a medievalística como o medievalismo têm conhecido um significativo crescimento nas últimas décadas. Como indícios desse movimento, lembra-se, no primeiro caso,que desde as décadas de 1980 e 1990, com a institucionalização da área em Programas de Pós-graduação, com a vertiginosa formação de especialistas e com a crescente publicação das investigações o campo se fortalece; paralelamente, no segundo caso, a partir dos anos 2000, com a organização de festas e festivais, fabricação e comércio de diversos produtos, formação de bandas e surgimento de novos sites, páginas nas redes sociais e conteúdo web sobre o medievo, a Idade Média se populariza.

O crescimento do medievalismo pode ser notado em sites como Cena Medieval, criado em 2015. Ele se define como espaço para centralizar e divulgar informações sobre o meio medieval no Brasil, estando diretamente relacionado a grupos recriacionistas, grupos de luta, artesãos, ferreiros, fabricantes de hidromel e outros grupos ligados direta ou indiretamente ao medievalismo. Em levantamento feito no próprio siteé possível identificar que no ano de 2017 ocorreram quarenta e três (43) eventos relacionados ao medievo, e no ano de 2018 ocorreram trinta (30) eventos, entre festas, feiras, banquetes, oficinas de música, torneios, etc. Destarte, somando os eventos nacionais registrados no site para os anos de 2017 e 2018, chega-se ao total de setenta e três (73) eventos, sendo distribuídos por diferentes estados: São Paulo, trinta e quatro (34) eventos; Rio de Janeiro, onze (11) eventos; Paraná, dez (10) eventos; Rio Grande do Sul, nove (9) eventos; Minas Gerais, quatro (4) eventos; Bahia, com dois (2) eventos; e Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal, cada um com um (1) evento.

Em pesquisa realizada por Wada et. Al. (2014), constatou-se que o segmento de eventos medievais tem vindo a popularizar-se no Brasil, influenciados pela crescente produção e divulgação das pesquisas acadêmicas acerca do medievo e pela inspiração nos eventos e festas que ocorrem na Europa. Outro ponto assinalado pela pesquisa é que parte das atividades investigadas são baseadas em recriações de mitos, lendas, danças, lutas e no estudo de documentos medievais, o que busca tornar os eventos o mais recriacionista possível.

Do mesmo modo, Porto Júnior (2018b) ressalta que diversos elementos e práticas socioculturais inspiradas no medievo, como músicas, danças, moda, culinária e lutas estão sendo ‘recriadas’, merecendo destaque:

“as feiras, os festivais e outros eventos com temática medieval, que desde fins do século XX proliferam-se em praticamente todo o mundo ocidental e conseguem reunir milhares de pessoas. Atraídos pelo som do alaúde e animados pelas brincadeiras de saltimbancos, malabaristas, fantoches e bobos da corte, muitos ainda hoje se embriagam de hidromel, fartam-se de carne de javali, assistem e/ou participam de jogos de feitos de armas entre outras encenações históricas” (Porto Júnior, 2018b, p.236).

Em linhas gerais, pode-se afirmar que o recriacinismo histórico (historical reenactment ou living history) constitui uma prática educativa lúdica – e crescentemente relacionada com o turismo cultural (Campos, 2011) – que tem como objetivo recriar ou representar elementos de um determinado período ou evento.Esse processo de recriação visa transmitir veracidade, autenticidade e, para isso, funda-se em pesquisas históricas, arqueológicas e, mais recentemente, em investigações de iconografia e antropologia visual (Porto Júnior, 2018b).

A prática remete, ao menos, às décadas de 1960 e 1970, tendo se iniciado na Inglaterra a partir de uma campanha publicitária e de ações da Roundhead Association e da King’s Army no intuito de recriar eventos históricos através da atuação de personagens vestidas com trajes da época (Coelho, 2009). Tal como ocorre com o Medievalismo/Medievalism, muitos são os termos utilizados para referenciar o movimento recriacionista em português. Em Portugal, por exemplo, utilizam-se as expressões revivalismo, reconstituição e, em especial, História ao Vivo.No Brasil, crescem os grupos e as experiências desse âmbito, caracterizando-se como atividades de recriacionismo histórico. Feita essa breve apresentação, passa-se a considerações sobre o potencial pedagógico do medievalismo.

O potencial pedagógico do medievalismo

Como argumentam Chepp, Masi e Pereira (2015), existe uma Idade Média contada na escola, que ainda remonta à “leitura iluminista e preconceituosa do medievo”, e outra, eivada de fantasia, aventura e imaginação, que permanece distante dos bancos escolares. Essa “Idade Média fantasiada” está presente no cinema, nas séries de Tv, nas músicas e nos jogos, na literatura, nas Histórias em quadrinhos (HQs)..., e, sem abrir mão da pesquisa histórica sobre o medievo, demonstra um significativo potencial para a aprendizagem histórica acerca da Idade Média. Os autores propõem que:

“...a aprendizagem do conceito e a possibilidade de novas experiências com o passado, possam ser auxiliadas pela exposição do aluno às numerosas alternativas de representação e “(re)encenação” do passado, através de estratégias e de formas de expressão como a música ou as séries de televisão. Essas duas formas de expressão jogam o estudante para um mundo pré-conceitual e lhes proporciona uma experiência nua do passado. (...) Ora, o que se quer é justamente essa abertura, tão difícil de ser conseguida com o uso imediato de um texto didático ou de uma explicação do professor. Essa abertura não pode ser confundida com uma aprendizagem incorreta e inadequada que levaria o aluno a aceitar uma Idade Média fantasiada, mas é a força imaginativa dessa inserção de um mundo medieval fantasiado e inexistente na pesquisa histórica, o que pode permitir o aluno a pular do Caos a novas formas de conhecimento sobre a Idade Média. Ele poderá saber fazer a distinção entre o que é fantasia e o que é realidade histórica, mas igualmente saberá reconhecer as representações que os povos criam sobre si mesmos e sobre os outros, e que estas podem ser transformadas em aprendizagens históricas” (Chepp, Masi e Pereira, 2015, p.951-952).

O trecho acima é instigante e abre uma série de perspectivas para o ensino de história, ultrapassando as particularidades do medievo. Os autores, por exemplo, exploram o uso de séries de Tv e músicas no referido artigo, mas as proposições que orientam o texto mostram-se adequadas para a reflexão acerca de atividades de recriacionismo no ambiente escolar.

Maria Solé descreve diversos projetos de História ao Vivo realizados em Portugal desde os anos 1980, demonstrando como essa técnica mostra-se adequada ao ensino de história, interessando e engajando os alunos através do lúdico e da imaginação histórica, além de mobilizar a comunidade e articular os professores em torno de projetos multidisciplinares. Para a autora:

“A preocupação com o rigor histórico é uma constante, sendo necessário uma consulta exaustiva de várias fontes históricas e historiográficas. Um projecto deste tipo não se limita à procura do rigor científico, pressupõe também um trabalho pedagógico prévio de preparação dos alunos envolvidos, levando-os a compreender o que vão fazer, e como o devem fazer(...).A ‘História ao Vivo’ procura indicar novos caminhos para revitalizar o estudo da História e das disciplinas afins. A dramatização de uma dada circunstância histórica, num local apropriado, numa data precisa, numa encenação tão próxima quanto possível da realidade passada, onde o aluno é levado a ser participante convicto, agindo e compreendendo «como era» operará nele o salto «para dentro» da História.Ele passa a saber o circunstancial e o geral, porque participou”. (Solé, 2011)

Os apontamentos acima permitem considerar que a ‘História ao vivo’ ou recriação histórica tem diferentes potencialidades no ensino básico, abarcando desde elementos do desenvolvimento cognitivo do estudante à elementos do desenvolvimento socioemocional, preocupações cada vez mais urgentes e atuais da educação integral. Apesar dessa potencialidade, passa-se a algumas considerações tendo como base a experiência pessoal como docente da formação de professores.

No curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém/PA,em duas oportunidades, uma como avaliação final da disciplina História Medieval (2017.2) e outra como ação extensionista (2019.1), promoveu-se a realização de uma mostra de História Medieval inspirada no encontro entre a medievalística, o medievalismo e o recriacionismo histórico. As atividades foram a culminância de um processo que envolveu: os conteúdos teóricos e práticos dos componentes curriculares; a pesquisa documental e bibliográfica; a preocupação com promoção de diferentes linguagens no ensino de história, privilegiando o percurso do indivíduo/grupo para a escolha dos temas e da abordagem; o trabalho colaborativo; a expressão extensionista da universidade através do envolvimento da comunidade e das escolas da cidade.

Na I Mostra de História Medieval, ocorrida em março de 2018, os estudantes escolheram temáticas ou atividades livres, conforme os interesses individuais, realizando pesquisas a fim de explorar os itens. A seguir, estruturou-se a mostra em forma de exposições e de dramatizações, finalizadas pela entrega de relatório. Assim, foram apresentados trabalhos sobre: o uso de quadrinhos no ensino de história medieval; a literatura medieval e o medievalismo na literatura contemporânea; as séries de Tv e os usos do passado medieval; a alimentação medieval, reproduzindo um banquete. Além disso, foi produzida uma maquete de cidade medieval dos séculos XII e XIII – atualmente disponível ao público na biblioteca da Casa de Cultura do município –, foi encenada uma peça com o tema “Corpo e Sexualidade” na Idade Média e realizada uma apresentação de dança medieval.

Na II Mostra de História Medieval, ocorrida em março de 2019, estudantes de diferentes turmas e cursos novamente escolheram temáticas ou atividades livres conforme os interesses individuais, tendo como eixo central a Corte Medieval. A partir do eixo foram realizadas pesquisas bibliográficas a fim de estruturar a mostra, buscadas parcerias a fim de financiar os materiais e organizada a programação da atividade. Esse processo resultou: na ambientação do espaço, com tecidos, flores e bancos de madeira; na organização de uma sala para a exibição de animações relacionadas à Idade Média; na formação de um núcleo de jogos e brincadeiras voltadas ao público infantil, explorando jogos da cavalaria, como arco e flecha e corridas de cavalo; em exposições de quadrinhos, edições de documentos e da iconografia medieval; na dramatização de um banquete medieval e de uma batalha entre cavaleiros cristãos e guerreiros muçulmanos; ena apresentação de dança medieval.

As atividades foram bem-sucedidas e mobilizaram a comunidade acadêmica e local, além de, num primeiro momento, a turma de História Medieval, e, na segunda mostra, os alunos do curso e de outros institutos, envolvidos com a proposta. Em termos de diagnóstico da aprendizagem, a mostra medieval mostrou-se satisfatória, tendo em vista a organização em grupos menores que puderam trabalhar em temáticas de sua própria escolha; a possibilidade de aprofundamento dos conteúdos, elemento que, em geral, é limitado pelo conteúdo programático e pelas avaliações individuais; a elaboração de uma avaliação flexível e processual, acompanhando o estudante desde a escolha do tema, no processo de pesquisa, na avaliação coletiva e individual, durante a atividade e na entrega de relatório contendo a proposta apresentada, os objetivos e as justificativas, elementos fundamentados na bibliografia; a aproximação dos discentes com a comunidade, em especial, com o público escolar, apropriando-se de instrumentos diversos para a construção do saber histórico.

Em relação aos aspectos gerais presentes na mostra, destaca-se que principalmente a dança, o banquete, a batalha e o teatro permitiram aos alunos assumirem papeis de personagens históricos de outros tempos – jograis, nobres, damas, cavaleiros... –, adequando a linguagem, as vestimentas, o conteúdo da fala e dos gestos. Ao praticarem tal encenação, a mostra foi capaz de promover empatia e afetividade dos alunos ao se colocarem no papel de sujeitos de outra época, afetando tanto o aluno que apresenta como a comunidade que participa. Ao promover pesquisas para a construção da mostra, desenvolve-se tanto a consciência do período que se estuda, como a percepção das mudanças através do tempo e dos usos do passado medieval.

Ciente das limitações de ‘reconstruir’ a Idade Média, mormente em seus traços europeus ocidentais e cristãos, no ambiente universitário e de uma cidade da Amazônia sem o acesso a castelos, igrejas, praças e monumentos diversos datados dessa temporalidade, a experiência com a mostra medieval, por ser realizada com estudantes de licenciatura, tem favorecido o uso de recursos lúdicos no processo de ensino e aprendizagem e a exploração do potencial pedagógico do medievalismo, mobilizando tanto os acúmulos permitidos pela historiografia como a gosto pelo medievoda fantasia. Além disso, a mostra tem possibilitado aos alunos e aos comunitários se aproximarem desse tempo de tamanha alteridade e profunda identidade que é a Idade Média, aguçando a aprendizagem e promovendo o interesse, seja o desejo da pesquisa histórica seja a vontade ou o prazer de experimentar ambientes de outros tempos.

Referências
Douglas Mota Xavier de Lima é professor Adjunto da Universidade Federal do Oeste do Pará, Doutor em História (2016), Mestre em História (2012), Bacharel e Licenciado (2009) em História pela Universidade Federal Fluminense.

AMARAL, R. O medievalismo no Brasil. História Unisinos, vol.15, n.3, setembro/dezembro, 2011.

AURELL, J. Tendencias recentes del medievalismo español. Memoria y Civilización, 11, 2008, p.63-103.

CAMPOS, M. R. C. Recriações históricas em Portugal e Espanha. Relevância destes eventos para o turismo. Dedica. Revista de Educação e Humanidades, 1, março, 2011.

CHEPP, B.; MASI, G.; PEREIRA, N.M. O potencial pedagógico da Idade Média imaginada. Revista do Lhiste, Porto Alegre, n.3, vol.2, jul./dez. 2015.

COELHO, R. A. História viva. A recriação histórica como veículo de divulgação do património histórico e artístico nacional (1986-2009). Conceitos e práticas. Lisboa: Universidade de Lisboa, Dissertação de Mestrado em Arte, Patrimônio e Restauro, 2009.

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FERRÉ, V. Introduction. Médiévalisme et théorie: pourquoi maintenant? Itinéraires, Littérature, textes, cultures[en ligne], 2010-3, 2010, http://
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FUGELSO, K. (org.).Studies in medievalismo XIX: definingne medievalism(s). Cambridge: D. S. Brewer, 2010.

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NASCIMENTO, D. B. P. Idade Média: Contexto, Celtas, Mulher, Carmina Burana e Ressurgências atuais. Niterói: Parthenon Centro de Artes e Cultura, 2015.

METRÓPOLES. Jardim Botânico recebe edição 2016 do Festival Medieval Brasil. Matéria publicada no site de notícias Metrópoles, em 13/06/2016, disponível em:http://www.metropoles.com/entretenimento/jardim-botanico-recebe-edicao-2016-do-festival-medieval-brasil Acesso em 21/02/2019.

PORTO JÚNIOR, J. B. S. As expressões do medievalismo no século XXI. In: Anais do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio. 2018a.

PORTO JÚNIOR, J. B. S. Uma viagem ao passado: o imaginário medieval na contemporaneidade. In: FRÓES, V. L.; FREITAS, E. C.; GONÇALVES, S. M. COSER, M. C.; PEREIRA, R. A.; CASTRO, A. C. M. (orgs). Viagens e Espaços imaginários na Idade Média. Rio de Janeiro: Anpuh-Rio, 2018b, p.236-246.

ROSA, M. L. Fazer e pensar a história medieval hoje. Guia de estudo, investigação e docência. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017.

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SOLÉ, M. G. P. S. A técnica “História ao vivo”. A realização de uma feira medieval no Lindoso. Comunicação apresentada no IV Encontro Nacional de Didáticas e Metodologias da Educação, Évora, 26-28 de set. 2001.

WADA, E.K.; MORETON, F. A.; NASCIMENTO, T. F.; MOREIRA, A. G. O medievalismo em eventos no Brasil. Revista Turismo & Desenvolvimento, n.21/22, 2014.

Sites


Festival Medieval Brasil. http://www.festivalmedieval.com.br

23 comentários:

  1. Caro professor Douglas Lima, antes de tudo, parabéns pelo trabalho. Gostaria que apresentasse algumas palavras acerca dos usos da Idade Média cujo objetivo é dar sustentação a teorias supremacistas. Felizmente, há aqueles se valem do passado medieval e trazer maior visibilidade para o campo de estudos medievais; infelizmente, há aqueles que produzem ideologias altamente tóxicas e de fácil disseminação.

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    1. Caro amigo, você traz uma questão de grande relevância, talvez uma face obscura, ainda que cada vez mais exposta, da temática que tratei. Vou tentar expor algumas ideias, mais do que uma resposta acabada.
      De fato, no mundo, e no Brasil não é diferente, temos acompanhado grupos defensores de teorias supremacistas fazendo releituras da Idade Média.
      Sabemos que Idade Média é um aglomerado de sentidos, por vezes díspares, produzidos ao longo dos últimos séculos e parece-me que para esses grupos, a Idade Média representa a supremacia branca, cristã e belicosa. Tenho a impressão que o mundo greco-romano ainda é reapropriado por uma via 'humanista', isto é, com a valorização da Filosofia, da Arquitetura, da Poesia, do Teatro etc., ao passo que a Idade Média, deveras caracterizada como época de violência generalizada, uma sociedade guerreira por excelência, empresta seu herói, o cavaleiro armado, e oferece um acontecimento, as Cruzadas, como expressão dessa violência plenamente justificada. Numa época em que bandeiras de tolerância, diversidade e trocas culturais ganha relevo, essa 'outra' Idade Média ressurge como fundamentação para atos de xenofobia e discursos discriminatórios, racistas e belicosos.
      Apesar disso, também considero que essa percepção está influenciada pela capacidade das mídias divulgarem uma maior diversidade de pensamentos e permitir que diferentes sujeitos tenham voz. Ao dar aulas sobre Cruzadas, geralmente gosto de recuperar imagens do século XIX francês, cartazes da I Guerra Mundial, de George W. Bush, da luta contra o ISIS, entre outros... as Cruzadas foram e permanecem frequentemente acionadas pelo Ocidente no trato com o outro, seja nos próprios países, na Europa ou na América, seja em relação ao Oriente.
      Para finalizar, penso que devemos ter cuidado e atenção com discursos que negam a diversidade no passado, afirmam os pilares (idealizados) da cultura judaico-cristã em detrimento das demais, valores de família atemporais... Em nossa labuta, quiçá a lembrança de uma Idade Média mais plural nos ajude a superar tais preconceitos.

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    2. Caro Douglas, a esse debate acrescentaria a necessidade de se pensar não em uma história da Europa, mas nas histórias dentro da Europa e suas diversas conexões com a Ásia e a África. Estudos como os Sarah Davis-Secord e Andrew Elliott questionam o fato de que nós medievalistas legitimamos a ideia de que a Europa foi absolutamente branca e cristã. Algo que não se confirma quando olhamos para suas fronteiras tais como a Península Ibérica e Sicília, ao sul da Itália.

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    3. Concordo plenamente com suas colocações. Penso que essa Idade Média conectada, global, descolonizada, ainda está em construção, mas esse processo será muito penoso, talvez permaneça embrionário, pois o medievo é, sobretudo, o tempo da identidade nacional e cristã europeia, referência que, enfraquecida ao longo da segunda metade do século XX, volta à tona com movimentos conservadores na Europa.
      A Idade Média permanece a única Idade com uma delimitação espacial precisa, a Europa... até quando?
      Um grande abraço

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  2. O autor Gonzaga (1993) diz que a Idade Média é fruto do seu tempo, pois ela precisa ser analisada e refletida de acordo com as características daquele tempo em específico. Assim, a análise da Idade Média "ao vivo" é realmente benéfica para a sala de aula além do que de modo de entretenimento? Pois, o julgamento não seria na visão contemporânea? Acho que a parte em que a pessoa conseguirá julgar entre realidade e fantasia ficou um pouco vaga.
    Adrienne Peixoto Cardoso.

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    1. Olá Adrienne, muito obrigado pela instigante e provocativa questão. Vou começar pelo fim da seu comentário.
      Concordo com você, a discussão sobre as práticas de recriacionismo e, principalmente, o relato sobre a experiência que comecei a desenvolver na universidade ficaram um tanto vagas. Ao começar a fazer o relato eu já estava no limite de páginas, preferi não aprofundar. De todo modo, admito que é uma questão nova sobre a qual estou começando a pesquisar e foram experiências recentes e bem distintas (uma ocorrida em março de 2018 e outra em março de 2019). Nos casos específicos das atividades que organizei, tentamos delimitar os campos da Idade Média e dos usos do passado medieval, para evitar a confusão entre história e fantasia.
      Sobre a ideia do recriacionismo ou, como dizem em Portugal, da História Viva, ser positiva para o ensino, eu considero que ela é, mas não em virtude do entretenimento. Penso, sobretudo, que tais recursos (tal como nos jogos teatrais) permitem ao estudante colocar-se no lugar do outro, imaginar-se noutro contexto e, consequentemente, desenvolver empatia e promover a alteridade no olhar, dois elementos deveras importantes no Ensino e na História. Seguindo o raciocínio da sua pergunta, gostaria de concordar que esse assumir o lugar do outro é impossível e atravessado de muitas limitações, porém, essa aproximação, feita de maneira crítica e fundamentada, pode permitir que o estudante (seja em fase escolar ou, como hoje é o público do meu caso, em formação docente) apreenda mais e melhor determinados conteúdos, reafirmando uma escala humana nem sempre contemplada pela história de datas e acontecimentos. Acrescento que considero o lúdico como potencialmente importante para o ensino em geral, posto que favorece o trabalho com competências socioemocionais e cognitivas, por vezes colaborativas e que promovem o protagonismo do sujeito.
      Por fim, chego ao início da questão. A Idade Média "precisa ser analisada de acordo com as características daquele tempo em específico". A ideia é boa, talvez, em parte eu concorde com você, pois Alain Guerreau tem algumas proposições que, de algum modo, aproximam-se do que você expôs. Contudo, ao considerar a sua pergunta como um todo, eu prefiro seguir um ponto de vista oposto. O que é (a) Idade Média? Quais são as características daquele tempo? Quem definiu essas características? ... Algumas provocações... De todo modo, os acúmulos da medievalística nas últimas décadas nos permitem ter clareza da parcialidade ou até mesmo da inadequação de termos/ideias tão propagadas como centrais para a caracterização da Idade Média: Feudalismo, Anarquia Feudal, Invasões germânicas, Renascimento do séc. XII, Reforma Gregoriana, Cristianismo (no singular), violência generalizada, idade da fé, intolerância, ausência de mobilidade, etc. O período conhecido como Idade Média está sendo alvo de muitas reinterpretações, e não estou falando da valorização dos elementos culturais e do período em geral promovida, por exemplo, por Le Goff. Podemos dizer que a Idade Média está sendo "Descolonizada".

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    2. (Continuação da resposta)

      De todo modo, no limite, eu retomo a primeira pergunta para pensar no seguinte elemento. Seria possível analisar a Idade Média apenas por suas características específicas? O estudo da história só é adequado (correto) quando se procura estudar uma sociedade por ela mesma? Ao evitarmos conceitos e teorias contemporâneas, privilegiando apenas a terminologia e/ou as categorias de uma época, será que estaríamos deixando de sermos um observador do século XXI e poderíamos falar com maior verdade (?)/ verossimilhança sobre o passado?...Considero que você está preocupada com o anacronismo, se sim, eu comungo da sua preocupação, seja no uso incorreto de conceitos e categorias seja na apropriação fantasiosa do passado. No entanto, acho que isso não nos impede de poder olhar, pensar, analisar e encenar o passado adequadamente (como historiadores) e estamos conscientes de nosso lugar de observação no tempo e no espaço.
      Fiquei curioso, quem é Gonzaga, 1993 ?
      Obrigado pela possibilidade de pensar em um tema tão interessante, seria uma boa conversa para horas.

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  3. Boa Noite.

    Penso que o medievalismo, tendo em vista as diversas veiculações que possui, pode se encaixar perfeitamente no que chamamos de História Pública. Esse pode ser o campo que os(as) historiadores(as) podem estar ocupando no futuro, em termos mercadológicos mesmo. A minha preocupação é com a questão da representatividade. Parece que não existe pretos(as) nesse ambiente medieval. Em Portugal, já nos anos finais desse período, didaticamente falando, já haviam africanos(as) escravizados. Em 1252, se não me engano, houve uma bula papal (Dum diversas) onde Portugal foi autorizado a escravizar pessoas e tomar territórios não cristianizados. Gostaria de saber, na sua opinião, o que falta para que esses temas sejam tratados dentro do "medievalismo".

    Carlos Mizael dos Santos Silva

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    1. Olá Carlos, muito obrigado pela instigante questão. Acredito que ela se aproxima da primeira pergunta que recebi, feita pelo Prof. Carlile Lanzieri Júnior. Tentarei expor algumas ideias, sem o desejo de esgotar a pergunta.
      Como indiquei na resposta ao colega, existe uma outra face do medievalismo com a qual devemos ter muito cuidado, que são os usos do passado medieval para afirmar teorias supremacistas e discriminatórias. Nessa via, a Idade Média é pensada dentro de um paradigma exclusivamente europeu (com uma Europa deveras restrita geograficamente e idealizada), branco e cristão. A medievalística tem avançado em demonstrar as limitações de tais ideias, porém os estudos, em geral, ainda se restringem a esses pilares do medievo ocidental. Assim, seguindo seus apontamentos, fica a impressão de que a Idade Média do medievalismo se restringe, sobretudo, aos feitos dos cavaleiros cristãos, a homens e mulheres brancos representando nobres medievais e a elementos da fantasia. No limite, podemos considerar a outra via, que envolve o imaginário escandinavo ou celta e que busca um afastamento ainda maior da sociedade contemporânea.
      De todo modo, o alerta deve estar aceso permanentemente, pois essa fuga do presente (algo crescente desde a crise da modernidade vivenciada nos anos 1960) pode reafirmar um passado estereotipado e segregador.
      Tentando oferecer apontamentos propositivos, parece-me central, dentro da sua questão, promover o estudo de uma História Plural. Ao lecionar História Antiga, por exemplo, gosto de citar a diversidade étnica e religiosa do mundo romano, a intensa presença negra em Atenas ou os perigos de se ocidentalizar a Grécia Antiga. Ademais; ao tratar da História Medieval, tendo pontuar a diversidade do cristianismo, a diversidade na Europa medieval (em diferentes aspectos) e a importância de compreender a sociedade medieval a partir de outro prisma, por exemplo, o Mediterrâneo. Tenho consciência de que ainda é pouco dentro do desafio de Descolonizar a Idade Média, porém nos ajuda a reinterpretar o período e, talvez, promover novas apropriações desse passado.
      Cada vez mais penso que, paralelamente a esse movimento citado, que é sobretudo uma abordagem da medievalística, é necessário incorporar desde a sala de aula da Educação Básica, aos cursos de formação de professores, todo esse campo do medievalismo, pois além do potencial pedagógico relativo à ludicidade e à experimentação, ele carrega um potencial de criticidade singular, relacionando o tempo passado e o tempo presente.
      Especificamente em relação aos africanos escravizados, concordo com você e penso que o desafio seja incluir tais grupos na grande narrativa acerca da sociedade medieval, seja em geral, seja no caso ibérico citado, talvez enfatizando a abordagem da História Global e da Connected History, sem cair na redução dos povos africanos à figura do escravo.
      Por fim, concordo com você e também vejo que tais discussões têm muito a ganhar com a incorporação das reflexões da História Pública. O texto que exponho aqui ainda considero em fase inicial, como um esboço, do mesmo modo, ano passado, em Cuiabá, ao tratar da Descolonização da Idade Média, apontava a história pública como caminho. Ainda estamos distantes, mas a via é frutífera.
      Um grande abraço e obrigado pela questão.

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  4. Olá professor!

    Para mim ficou clara a aprendizagem decorrente do processo de pesquisa para as apresentações e a maneira como esse processo foi avaliado. No entanto, não ficou muito claro para mim o(s) objetivo(s) de aprendizagem relacionados à apresentação em si. Foi feito algum tipo de avaliação ou questionário para verificar que "a mostra foi capaz de promover empatia e afetividade dos alunos ao se colocarem no papel de sujeitos de outra época"? Como analisar se o aluno conseguiu desenvolver "tanto a consciência do período que se estuda, como a percepção das mudanças através do tempo e dos usos do passado medieval"?

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    1. Olá Kelly. Muito obrigado pela pergunta. Na verdade, destaco que fiquei muito contente ao ler sua questão, pois demonstra o olhar atento ao tema do ensino-aprendizagem, algo que, por vezes, passa despercebido. Assim, mesmo não a conhecendo, fico contente pelo fato de você ter esse olhar de educadora apurado.
      Vamos lá, primeiramente, gostaria de esclarecer que a experiência relatada e o próprio exercício de tentar refletir sobre a experiência da Mostra ainda é algo deveras recente para mim e para os meus alunos que participaram. Essa é a primeira vez que tento organizar a experiência em forma de texto. Tivemos duas Mostras, uma delas há menos de um mês, com propostas e atividades bem diferentes (a de 2019 com um caráter de extensão e voltada para o público infantil, por exemplo). De todo modo, vou tentar responder e não me esquivar da questão.
      Como você notou, a avaliação dos objetos de conhecimento específicos (I Mostra), como Cidade Medieval, Alimentação na Idade Média, Literatura Medieval etc., foi possível através da entrega de relatório com os procedimentos realizados para a construção do trabalho, texto fundamentado na bibliografia, ao final da disciplina. Contudo, desde a fase de preparação dos trabalhos eu tive a preocupação de que os grupos conseguissem abordar a sociedade medieval e os usos do passado medieval como coisas distintas. Considero que isso foi o mais difícil da construção da avaliação e demandou muito contato da monitora da turma com os grupos, pois alguns grupos usaram filmes, séries de Tv, literatura atual, Quadrinhos, entre outros, elementos que marcadamente estavam no campo do medievalismo. Deste modo, com as apresentações foi possível observar se a distinção foi compreendida (minha avaliação é que a turma teve um desenvolvimento muito satisfatório nessa questão). A percepção sobre esse objetivo também se sustenta na reunião de avaliação da mostra, quando os alunos expõem sobre o ocorrido.
      Em linhas gerais, o que eu descrevi cabe para a primeira experiência, ocorrida em março de 2018, como avaliação de uma disciplina. Considerando ambas as atividades, isto é, a de 2018 e a realizada em março de 2019, avalio que a dimensão da empatia e afetividade foi bem desenvolvida. Não foi feito questionário ou avaliação para isso, mas ao longo da construção da mostra tivemos uma séries de encontros com a preocupação em problematizar as cores, os tipos de vestimentas, a presença de mulheres nas batalhas, as armas, as habitações, as comidas, os objetos, as brincadeiras, etc. Sua sugestão é muito boa e pertinente (vou tentar aplicar no próximo ano), de todo modo, observando o resultado e, principalmente, as respostas orais dos alunos, vejo que o grupo que realizou as atividades consegue, minimamente, trabalhar a Idade Média pela via da alteridade, tentando contextualizar gestos, objetos, vestimentas entre outros.
      Ressalto ainda que compreendo as dimensões da empatia e da afetividade como elementos intrínsecos da História, permitindo que o historiador, de algum modo, busque se aproximar do passado, um passado sobretudo humano, com sentimentos, sons e experiências. Do mesmo modo, tal via mostra-se, para mim, como necessária para o ensino em geral, pois o professor precisa ter empatia com seus alunos.
      Por fim, gostaria de acrescentar que ambas atividades não fixaram os seus objetivos nos objetos de conhecimento ou conteúdos de história medieval. Na verdade, como digo para as turmas, a Idade Média é nosso ponto de partida para pensar ensino, assim, os principais objetivos de tais atividades foram trabalhar/promover o protagonismo do estudante como futuro docente, seja criando atividades, seja criando seus próprios materiais de ensino; a aprendizagem colaborativa; a criticidade ao estabelecer a relação passado/presente; a consciência ambiental, privilegiando o uso de materiais reciclados; a percepção de que através do lúdico é possível ensinar história; a aproximação dos estudantes com o público escolar desde os primeiros semestres; o fortalecimento do caráter extensionista da universidade; ...

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    2. (Precisei retirar o fim da resposta por causa do tamanho. Acrescento nessa segunda postagem).

      Como eu disse, são experiências recentes que estão sendo adaptadas a fim de ser criado um projeto, ainda estamos em fase de delimitações e, em especial, de reflexão e fundamentação da ideia. Assim, talvez, o que eu respondi seja mais a expressão de desejos de um professor do que a análise dos resultados, como você bem ponderou. Apesar disso, mais uma vez agradeço a pergunta, pois ela contribuiu bastante nesse processo de reflexão.

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  5. Professor, as produções artísticas sobre a Idade Média, algumas de sucesso, não podem atrapalhar uma melhor compreensão desse longo período? Claro que não os elementos fantasiosos, mas ideias anacrônicas às vezes jogadas em filmes e séries, como feminismo e ateísmo. O sr já as encontrou no âmbito escolar?

    César Aquino Bezerra

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    1. Olá César, muito obrigado pela questão.
      Você toca em um ponto muito importante, tanto para o exercício do ofício do historiador no geral, como, especificamente, em relação ao ensino de história. Estou partindo da perspectiva de que o sujeito recebe uma série de narrativas sobre o passado ao longo de sua vida: de instituições religiosas, da família, dos grupos de pertencimento, da escola, do Estado, do time de futebol, das novelas, dos desenhos, dos filmes ... e da historiografia. Mencionando tais exemplos quero indicar que a história dos especialistas é apenas um discurso sobre o passado entre muitos, que disputa espaço de legitimidade afirmando-se como ciência e estruturando a sua prática em procedimentos consagrados pela pesquisa ao longo dos últimos séculos.
      Indicado esse pressuposto, penso ser imprescindível demonstrar a historicidade do conhecimento histórico e reforçar, sempre que possível, os usos do passado. Em geral, a visão ou o conceito de Idade Média é profundamente marcado por manipulações desse passado, seja por meio do entretenimento (filmes, séries, games ...), seja por vias identitárias e políticas (movimentos separatistas, identidades cristãs, defesas de uma noção restrita de família...). No limite, também devemos questionar algumas noções que "colonizaram" a ideia de Idade Média, como Religião, Soberania, Estado, Violência, Intolerância, entre outras.
      O que estou tentando demonstrar é que ao abrir mão desses questionamentos, seja da noção de centralização x descentralização, civilização x barbárie, fé x razão, seja de como um determinado filme, festa, Hq, ou game apropria-se da sociedade medieval, o professor acaba por focar toda a sua discussão num tempo passado, em busca de superar anacronismos e ser mais verossímil, porém acaba tanto por, frequentemente, reafirmar categorias forjadas a partir dos séculos XVII e XVIII para explicar o período 'medieval'; como por não oferecer instrumentais para o estudante (seja da Educação básica, seja (no meu caso) da Licenciatura) questionar e posicionar-se perante aos usos do passado que ele assiste na Tv ou no celular, que ele joga e se diverte, ou que ele vê no noticiário político, por exemplo o Bush que convocava cruzadas contra o Terror ou políticos brasileiros que bravejam "Deus vult".
      Um abraço e, mais uma vez, obrigado pela questão.

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  6. Ola professor, o texto em muito contribui para a construção do conhecimento histórico e me parece ser uma ótima ferramenta para o ensino na educação básica, porém, algumas questões me inquietam. Vejo que no Festival Medieval Brasil e nos evento desenvolvidos para alunos de graduação, as vivencias representadas me parecem mais vinculadas às classes poderosas e influentes do medievo. O risco de que continuemos a tratar das histórias de grandes heróis e conquistadores me parece latente, logo, como lidar com esta possibilidade dentro destes moldes?
    Tendo como polos São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, o crescimento de uma tradição recriacionista não pode tentar buscar "embranquecer" a historia brasileira?

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    1. Bom dia. Excelente questão Ayna. Ela também me inquieta e deixa em alerta.
      Concordo com você. Grosso modo, os festivais medievais no Brasil tendem a expressar uma Idade Média muito restrita, por vezes relacionada aos grupos dirigentes do período, marcadamente representando cavaleiros, reis e nobres como um todo. Apesar dessa tendência, também há um eixo muito presente nos festivais que vai na contramão dessa observação, que é a valorização do trabalho artesanal frente a padronização industrial, do meio ambiente frente ao consumismo e ao materialismo contemporâneo, do coletivo frente ao individualismo, dos elementos místicos frente ao ceticismo hodierno, entre outros elementos que, ao olhar para o passado, identifica (ainda que de maneira muito idealizada) a Idade Média como expressão de valores alternativos à sociedade contemporânea.
      Feita essa ressalva, volto a concordar com você. A Idade Média tem sido muito mobilizada por teorias raciais e conservadoras. Isso se manifesta na Europa, nos EUA e cresce no Brasil. Porém, mesmo compreendendo o risco do incentivo a esses festivais, inclusive no ambiente acadêmico e escolar (como é o meu caso), considero que ele é uma via de aproximar o público do período, da História, sendo imprescindível o docente mediar essa aproximação a fim de evitar que a sociedade medieval (ou outras experiências do passado) sejam apropriadas para promover intolerância e preconceito.
      Mais uma vez, obrigado pelo questionamento.

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  7. Caro Douglas, muito obrigado pelo seu texto instigante. Gostaria de aproveitar as questões levantadas pelo Carlile e pelo Carlos e fazer três provocações:
    1) O discurso supremacista/racista e violento da Idade Média, reproduzido em muitos grupos de recriacionismo não seria reflexo da produção historiográfica, talvez não a atual, como apontaste para o questionamento de Carlos, mas a historiografia tradicional, metódica, escrita ela mesma em um contexto de nacionalismos raciais/racistas e antissemitas entre o XIX e o início do XX?
    2) Sendo positivo o diagnóstico na primeira questão, o medievalismo/recriacionismo não potencializa tal tipo de abordagem do passado ao se concentrar também em elaborações essencialmente factuais do passado, em vez de abordagens estruturais, por exemplo, que não me parecem ter grande apelo, ou mesmo viabilidade nesse meio?
    3) Por que motivo, finalmente, seria tão difícil a transposição dos conhecimentos a respeito do medievo para a prática do medievalismo, ou, posto de forma inversa, por que haveria tanta resistência à representação viva da história medieval de acordo com as investigações mais recentes a respeito do período - seja no que tange a questão das raças, dos gêneros, ou do grupos sociais, entre outros.
    Parece-me, e corrija-me se necessário, que mais que se aproveitar do medievalismo como uma ferramenta pedagógica simplesmente, não seria talvez tarefa da academia também educar o medievalismo e trazê-lo para "o século XXI" em termos de discurso sobre o passado?

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  8. Olá, professor.
    Observando as abordagens do tema medievo/ princípio da Idade Moderna, vejo que os conflitos sociais, principalmente, entre judeus e cristãos na Península Ibérica, são negligenciados. Todavia, são de suma importância para a discussão da composição étnica e territorial do Brasil. Acerca desses fatos, gostaria que explanasse sobre as abordagens dos materiais didáticos no que tange as relações sociais no medievo.

    Grata!
    Bruna Sousa Diniz

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  9. Boa noite!
    Qual o desafio que o professor(a) de história encontra em sala de aula ao se deparar com essas perspectivas dos alunos(a) sobre a Idade Média tão fantasiosas embasadas muitas vezes em filmes, séries, entre outros meios,ao momento que irá ministrar o conteúdo científico?

    Camila Bertucci

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  10. Olá professor Douglas
    Tendo em vista este excelente projeto realizado com os graduandos o qual foi apresentado no texto, e a onda de instigação que os assuntos medievais trazem, principalmente para os mais jovens, que tipo de cuidado você sugeriria para termos quanto a possibilidade de trabalharmos para retirar o estigma do rótulo humanista "Idade das Trevas" sem cair na idealização idílica que o Romantismo no século XIX trouxe ao período medieval?

    Mariano Meranovicz Ribeiro

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  11. Olá, professor Douglas.
    Muito legal o seu texto.
    Sou do Pará, estudando do curso de licenciatura em Historia e aprecio muito as pesquisas sobre Historia Medieval. Entretanto, ainda é um assunto pouco debatido por estas redondezas, e quando é possui uma carga problematica muito grande devido aos estereotipos etc. Achei muito interessante o seu trabalho e o trabalho realizado na Universidade Federal do Oeste do Pará, mas, o senhor já pensou em pesquisar o ensino da historia medieval com essas atividades ludicas voltado para as questões mais sociais, a exemplo, trabalhar o etnocenrismo, influencia da religiosidade, escravidão, enfim...? Sei que é importante eviar anacronismos, mas acredito que seja bem interessante debater assuntos do tipo sobre durante esse periodo e utilizando metodologias mais atraentes, como as exposições, com os alunos.
    Desde já, agradeço.

    MARIA JULIANA DA SILVA SOUSA

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  12. Boa noite Douglas, obrigada pelo seu texto, achei muito interessante.
    Acredito que o estudo da Idade Média oferece ótimo potencial pedagógico.
    Porém como abordar o tema sem cair na exaltação do eurocentrismo?

    NATHALIA CRISTINA PAULINO SANT'ANNA

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  13. Olá, professor Douglas.
    Primeiramente que parabeniza-lo pela produção textual, ela é uma boa fonte de conhecimento educacional a área, e fico muito feliz por citar em um evento internacional sobre a realização da I e II Mostra Medieval da UFOPA.
    Em relação ao Brasil, é muito comum nos parâmetros curriculares encontrarmos conteúdos medievais Ocidentais, do continente Europeu (França, Inglaterra, Alemanha, Itália), minha pergunta se dirigi à Península Ibérica (Portugal e Espanha) que colonizaram grande parte do continente Americano, seria viável entendermos um pouco mais a formação desses povos Ibéricos nessa temporalidade, para compreendermos as características herdadas deles, criando uma maior conexão entre os alunos e a "História Medieval" deles?

    JOSÉ AUGUSTO SENA VASCONCELOS

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